Não adianta assobiar para o lado. Isto, na realidade, anda tudo encadeado. Os postos  das gasolineiras das autoestradas fixam os preços dos combustíveis mais elevados dos que os praticados noutras estradas, mas a verdade é que, as rendas que as concessionárias das estações de serviço das vias com portagem são obrigadas a pagar não permitem outra política de preços.

Por outro lado, os automobilistas portugueses, muitos dos quais começaram já a arriscar a circular sem seguro e sem as revisões, obrigatórias ou recomendáveis, dos respectivos veículos, estão a afastar-se daquelas vias, evitando o pagamento das portagens que são caras e incomportáveis para muitas bolsas. Resultado imediato – os postos das gasolineiras das autoestradas poderão fechar.

Menos imediatamente visível será o aumento significativo da sinistralidade automóvel. O congestionamento das vias sem portagem e sem separadores centrais, algumas das quais com pavimentos desadequados ao volume do tráfego entretanto ocorrido, irá provocar muitos mais acidentes e, inevitavelmente, mais gastos para o Serviço Nacional de Saúde.

É bom não esquecer que o progresso neste domínio da saúde faz com que se consiga manter vivos, por muito tempo, pessoas feridas com elevada gravidade que outrora pouco tempo resistiam a tais ferimentos. Estes milagres da sobrevivência dos feridos graves são possíveis mas ficam muito mais caros ao Serviço Nacional de Saúde e a todos nós. Não tarda vamos equacionar a oportunidade do progresso.

Já equacionamos a necessidade de férias. Gastar dinheiro para quê? Para retemperar forças? Talvez fosse melhor obrigar as populações a fazer, durante as férias, uma prolongada cura de sono: ficaria muito mais barato e teria efeitos muito positivos em matéria de manutenção do nosso próprio corpo, enquanto máquina que devemos cuidar…

O problema é que, muitos restaurantes, nomeadamente nas regiões turísticas, acabariam por equacionar o futuro da mesma forma que os concessionários dos postos de abastecimento de combustível das autoestradas estão a fazer. Em boa verdade, a restauração, com o brutal aumento do IVA no sector, já está também com a corda no pescoço.

Estamos, na verdade, a hibernar em pleno Verão e em muitos aspectos da nossa vida colectiva. Forçada e injustamente, entenda-se, pois isto é que não é vida nem irá levar-nos muito longe, por mais iluminados que se julguem todos aqueles que insistem nestas receitas que parecem transformar as pessoas em mercadorias, ou melhor, em máquinas de baixo consumo.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 07 de setembro de 2012 no Sol

Translate »