Os migueis de vasconcelos que insistem em defender desvalorizações forçadas do nosso património imobiliário não agem apenas em nome dos interesses dos capitais estrangeiros que espreitam a oportunidade de multiplicar lucros à custa das fragilidades de quem tem pouca liquidez.

A venda forçada do nosso património imobiliário – das famílias e das empresas – é pior do que a velha lógica de por as joias no prego, nas velhas casas de penhores. Este expediente para obter dinheiro vivo ainda salvaguardava a hipótese do resgate, com juros, do valor penhorado.

Os stocks de ativos imobiliários não se acumulam apenas na banca. Acumulam-se também no fisco e este está já contaminado pela ideia de vender ao desbarato os bens imobiliários apresados reforçando aquela ideia de lesa economia nacional que a desvalorização do património contém.

No ciclo vicioso de uma economia sem mercados internos, os promotores imobiliários, as famílias e as empresas acabam por perder os seus melhores bens  na voracidade das instituições que se mostram incapazes de descobrir soluções adequadas à situação concreta e de perceber que as soluções antigas longe de funcionar como funcionavam só agravam os problemas.

O fisco e a banca podem estar condenados a acumular ativos imobiliários indesejáveis cuja transformação em dinheiro vivo, a preços desvalorizadíssimos, apenas consolidará a crise recessiva em que nos encontramos.  Mais avisado será evitar, pela renegociação das dívidas em causa, que o património construído seja todo colocado no prego.

Luís Carvalho Lima

Presidente da APEMIP

luislima@apemip.pt

Publicado no dia 14 de julho de 2012 no Expresso

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