Há uma inversão da tendência para o aumento das dações de imóveis para pagamento de créditos vencidos que, independentemente das razões, joga a favor do mercado imobiliário português, ajudando também a inverter a forçada e injusta desvalorização deste património, ainda há dias de novo ensaiada pela agência Fitch.
Na verdade, os números das dações de imóveis para satisfazer créditos vencidos voltaram a diminuir no último trimestre de 2012, tendo o ano acabado com um total de situações desta natureza inferior em 21% ao total verificado no ano de 2011, o que é uma boa notícia para a Economia.
Os elevados valores do primeiro trimestre de 2012 indiciavam um verdadeiro desastre para o mercado imobiliário nacional. Este susto teve porém o condão de despertar consciências para esta realidade, nomeadamente no sector financeiro que respondeu muito positivamente, flexibilizando soluções para evitar o incumprimento dos clientes.
Ao encarar o fenómeno com outra sensibilidade, nomeadamente no que toca à criação de condições mais propícias à renegociação dos créditos, a banca é também credora desta positiva inversão de tendências que ameaçavam provocar um colapso irreversível no sector da Construção e do Imobiliário.
Registe-se, no entanto, que este fenómeno não atinge exclusivamente as famílias portuguesas. Na verdade, o arrefecimento do mercado imobiliário continua a afetar de forma significativa todos os que investiram na promoção imobiliária e no desenvolvimento de novos projetos e empreendimentos.
Não é pois de estranhar que uma parte significativa dos imóveis entregues em dação para pagamento sejam precisamente provenientes da área da promoção. Importa, neste contexto, encontrar soluções adequadas para os investidores, à semelhança do que já se encontrou e adotou para os particulares.
Tudo isto porque, ao contrário do que alguns, como a agência Fitch, querem fazer crer, o mercado imobiliário português não precisa de corrigir preços, pela simples razão de não ter um excesso de oferta como muitos tentam fazer crer, de não viver uma bolha imobiliária de preços e de ter ainda espaço para crescer, nomeadamente na Reabilitação e no Arrendamento urbanos, associados ao turismo residencial.
Claro que há mais dificuldade no acesso ao crédito por parte da procura, não apenas por haver mais rigor nos critérios para a concessão deste crédito mas também, e principalmente, porque as famílias contabilizam menos rendimentos com as consequências inerentes em sede de taxas de esforço para o cumprimento dos encargos assumidos.
Isto não pode, porém, ser confundido com uma ausência de espaço para um mercado imobiliário saudável. Na verdade, o imobiliário português continua a ser um bom destino para investimentos, nomeadamente para os investimentos que ficaram “pendurados” com a crise financeira mundial que deflagrou em 2008.
É também neste quadro que devem ser lidos os esforços que têm vindo a ser feitos para inverter tudo aquilo que possa pôr em causa a real sustentabilidade do nosso imobiliário.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 23 de janeiro de 2013 no Público