Se é certo que é nas cidades que encontramos o padrão para medirmos a nossa própria cidadania, não é menos verdade que esta também passa pelo usufruto do património construído o que confere ao sector imobiliário uma importância social, económica e até política que, entre nós, tem vindo a ser crescentemente reconhecida.

Em Portugal ainda não se reconhecerá, como noutros países, que o imobiliário está na primeira linha da construção das cidades e das comunidades, tendo contribuído para a inclusão de minorias, por exemplo em momentos muito difíceis de grandes países como os Estados Unidos da América, mas já olhamos para este sector com um olhar mais sério.

Da criação da Comissão de Inscrição e Classificação dos Empreiteiros de Obras Públicas (CICEOP), ocorrida a 30 de Maio de 1956, ao actual Instituto de Mercados Públicos do Imobiliário e da Construção (IMPIC) viveu-se, em Portugal, 60 anos de actividade que contemplam vinte (as últimas duas décadas do século passado) durante os quais se construiu mais do que tínhamos construído até então.

É que realmente o imobiliário esteve sempre presente e foi um dos motores das horas boas das reconstruções. Não podemos esquecer que este sector tem sido, nas sociedades mais desenvolvidas, e desde o fim da II Guerra, um dos motores do desenvolvimento das nações e dos territórios, um dos motores das economias de Mercado que marcam, com diferenças, o modelo que o Ocidente adoptou.

É reconhecido que ser proprietário da casa onde se vive é um verdadeiro sinal exterior de classe média, a classe social que sustenta as democracias dos países do Ocidente, nomeadamente pela consolidação dos respectivos mercados internos, incluindo os imobiliários. No modelo de sociedade que adoptamos, adquirir propriedade imobiliária também foi, em certas condições, uma forma de fortalecer a democracia.

Mesmo no auge da crise financeira identificada em 2008, em parte atribuída à falta de regulamentação dos mercados financeiro e imobiliário, os especialistas desta realidade, reunidos em Nova Iorque sob os auspícios da ONU  voltavam a apontar o sector imobiliário como um dos pilares da recuperação, desde que assente em modelos de desenvolvimento sustentáveis, que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras.

Portugal não é excepção. Basta lembrar que a geração citadina dos homens e das mulheres que têm hoje 50 anos, nasceu e cresceu num tempo em que vivia em casas, na maior parte dos casos arrendadas, de menor área do que as que hoje se oferecem. E reconhecer que o imobiliário foi uma das pedras de toque da reconstrução que se seguiu a 1974, num país que esteve realmente muitos anos parado no tempo.

Um caminho não isento de erros – dos quais saliento a degradação dos centros históricos da cidade e a insensibilidade para a urgência da Reabilitação Urbana -, alguns dos quais estão, agora, a ser corrigidos, num novo contributo do sector para a reconstrução que, ciclicamente, encetamos, como estamos a ensaiar nos dias que correm.

O que tudo isto faz com que hoje aborde este tema é o sentimento de que o imobiliário em Portugal está, finalmente, a conquistar o lugar a que tem legitimamente direito pelo papel que sempre tem desempenhado em todas as reconstruções do país. Aos nosso olhos, mas também aos olhos de terceiros que nem sempre nos olhavam com bons olhos.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 8 de Junho de 2016 no Público

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