Dois e dois são quatro se o “e” significar uma operação de soma ou adição e se estivermos num quadro de um sistema matemático de base 10, o mais habitual entre nós. A infalibilidade dos números tem muito que se lhe diga e implica que as respectivas leituras tenham sempre em conta múltiplos factores de base.

Isto, vem a propósito da leitura muito irrealista que está a ser feita sobre o número de casas que existirão em Portugal no mercado de arrendamento, leitura agora apresentada com o peso e a credibilidade que sempre damos aos dados, mesmo que provisórios, saídos de uma operação como a do Censos 2011. 

Segundo estes, existirão em Portugal cada vez mais casas para arrendar, num crescendo de 37,6% relativamente aos números de 2001. De acordo com estas leituras o número de casas vazias destinadas ao arrendamento urbano passou, neste dez anos de 80 mil para 110 mil, o que desde logo colide com a realidade deste mercado onde a procura supera a oferta.

Há, potencialmente, muito mais de 110 mil casas para entrar no mercado de arrendamento. Mas estes números são, repita-se, potenciais e só serão números reais quando essas casas tiverem condições para se apresentarem neste mercado e quando os respectivos proprietários sentirem vontade de as colocar num mercado que, agora, é muito pouco atractivo.

Sem entrar em polémicas e sem por em causa o rigor dos números do Censos, direi que, só uma leitura simplista dos resultados vindos a lume incluirá como reais ofertas no mercado de arrendamento casas devolutas que esperam profundas obras de reabilitação e até ruínas que os proprietários desejariam ver recuperadas e, eventualmente, a render.

A vontade de que o mercado de arrendamento ganhe preponderância não é exclusiva dos poderes políticos, mas esse reequilíbrio, relativamente ao mercado de compra, só será real num outro quadro legal do mercado de arrendamento, nomeadamente no que respeita à justiça fiscal da urgente taxa liberatória sobre os rendimentos nele auferidos.

Não basta dizer para o Censos que se possui uma casa destinada ao mercado de arrendamento urbano, nem basta por uma placa onde se leia “arrenda-se”. É preciso muito mais para que essas e muitas outras casas como essas possam ser realmente ofertas no mercado de arrendamento, hoje ainda um mercado de muito maior procura.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 15 de Novembro de 2011 no Jornal de Notícias e Diário de Notícias

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