Há números que são incomparáveis. É impossível, pela diversidade de vectores que pesam em cada localização, elaborar um ranking nacional de casas, ordenado pela dimensão das mesmas, com o único ponto comum de uma verba disponível para a hipotética aquisição.
O município de Braga não é mais atrativo do que o de Lisboa pela circunstância de ser possível adquirir, com a mesma verba, uma casa na capital do Minho cinco vezes mais espaçosa do que uma casa na capital do país. Isto sem prejuízo da necessidade de Braga e outros municípios merecerem ser igualmente atrativos.
O imobiliário dos Açores foi, segundo as observações de um exercício jornalístico recentemente revelado, aquele que mais resistiu ao que o artigo considera uma tendência de descida do preço dos imóveis, em valores baseados na avaliação do preço do metro quadrado dos espaços que a banca foi chamada a avaliar.
Não duvido que estatisticamente seja assim, mas importa introduzir nestas certezas “correções” decorrentes da insularidade açoriana, do facto de muitas matérias primas para a construção terem um custo acrescido nas regiões insulares e até os contextos, muito diversos, em que foram feitas as avaliações bancárias.
Também a referida tendência de descida dos preços não é absoluta. Houve, ao abrigo da crise, uma desvalorização forçada dos bens imobiliários, ancorada numa suposta bolha que entre nós não existiu, mas essa tendência foi travada e já se inverteu, sendo um manifesto exagero dá-la como uma certeza inquestionável.
Isto sem esquecer opções invisíveis que podem caracterizar as políticas habitacionais de alguns municípios que devem ser tidas em conta. Em Portugal, houve, por exemplo, municípios que dificultaram a construção de edifícios com habitações de tipologia apertada, gerando áreas habitacionais mais caras e, por esta via, captando população de maior poder de compra.
O imobiliário é, realmente, um sector económico que faz pontes a montante e a jusante, que marca a área geográfica onde existe e para a qual foi projetado, que implica diretamente no estilo de vida das populações e onde tudo é, na maioria dos casos, incomparável.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 19 de Janeiro de 2015 no Diário Económico