A imagem de Portugal que alguns de nós deixam transparecer, mesmo involuntariamente e na melhor das intenções, gera nos outros uma série de equívocos, perpetuando traços muito negros como ainda hoje gostam de descobrir quando continuam a fotografar-nos a preto e branco.

Numa das suas notáveis fotografias do Portugal de meados do século passado, Gérard Castello Lopes capta uma vendedeira, toda vestida de preto, sentada na rua atrás de um pequeno caixote de madeira transformado em banca ao lado de uma porta fechada e encimada pela palavra cervejas.

Na porta ao lado, aberta, porta cuja bandeira ostenta a palavra vinhos, fazendo-se anunciar como uma porta de tasca, vê-se um homem de boina marinheira na cabeça displicentemente encostado a uma das ombreiras, num equilíbrio assente na perna direita e no ombro esquerdo.

A fotografia, um instante de luz e de sombras magistralmente captado por Gérard Castello Lopes, assume-se como documento importante para a nossa História, mas esse Portugal já não existe assim hoje, embora ainda haja quem o queira vender como tal e quem, do exterior, o veja assim.

Estes equívocos têm repercussões económicas gravíssimas que podem perdurar por muito tempo, fazendo com que ainda haja na Europa quem veja os portugueses que vivem em Portugal como um povo que se transporta em carroças e transporta mercadorias em carros de bois. 

Não é de estranhar que também se confunda, às vezes de forma menos bem intencionada, uma terra de oportunidades de negócios com uma terra de pechinchas cujo património estará em saldos. Este triste equívoco traduziu-se no recente primeiro salão do imobiliário português em Paris, numa frenética procura das chamadas “casas dos bancos”.

Tenho de reconhecer que este dramático equívoco da venda ao desbarato de um património que foi parar ao departamento errado de certas máquinas financeiras estava a ser promovido em Paris e com tal despudor que uma determinada fracção imobiliária foi arrematada por apenas 95 mil euros, apesar de ter recebido, no mesmo salão mas num espaço com outras regras, uma oferta superior em pelo menos mais 20 mil euros.

Na semana mais negra para o sector imobiliário português dos últimos anos, com quebras brutais no movimento da procura e desistências inesperadas de transações imobiliárias já acordadas e até financiadas, numa retração gerada pelas brutais incertezas que se abateram sobre o nosso futuro próximo, estes equívocos destroem a nossa verdadeira imagem de país onde é seguro investir, incluindo no imobiliário.

A realidade do imobiliário português – preço metro quadrado, inexistência de qualquer bolha, qualidade da oferta e qualidade geográfica e política deste destino – mostra Portugal como uma opção de boas e seguras oportunidades de investimento. Quem quer destruir isto deveria abster-se.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luís.lima@apemip.pt

Publicado no dia 24 de setembro de 2012 no Diário Económico

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