As leituras dos números, nomeadamente nos estatísticos devem ser sempre feitas com imenso cuidado, mas os números existem, tendem a ser mais rigorosos do que as palavras, ou de que algumas palavras, e os números dizem que procura de habitação própria subiu em Janeiro do corrente ano em valores que se aproximam dos 30% comparativamente ao período homólogo de 2013.
A par da procura interna verificou-se também, neste mês de Janeiro, um aumento das transações imobiliárias, fenómeno reanimado por investimentos de alguns segmentos da classe média que recomeçaram a investir no imobiliário parte do dinheiro que tinham mantido nos bancos, numa atitude de prudência. Há também, naturalmente sem as euforias do passado, um aumento do crédito imobiliário por parte da banca portuguesa.
A importância deste fenómeno reside na clara manifestação de confiança por parte de quem ainda consegue e quer investir mas, principalmente, no reconhecimento de que o imobiliário português, em algumas localizações, é claramente atrativo, estando ainda a preços muito competitivos e com clara tendência para subir.
Em algumas zonas de Lisboa e do Porto, como por exemplo e respectivamente no Parque das Nações e na Boavista, a oferta que serviria para esta procura acrescida começa a escassear. Como há muito venho dizendo, haverá localizações sem oferta para a procura em contraste com as localizações de oferta excessiva.
A capacidade que tivermos em potenciar as localizações que registam maior procura e em redimensionar ou regenerar as localizações onde a oferta ainda é excessiva fará a diferença relativamente a confirmar o imobiliário português, seja novo seja renovado pela reabilitação e regeneração urbanas, como um dos motores com o qual a Economia pode e deve contar.
Um país que não sofreu, nos últimas dez anos, uma bolha imobiliária, mesmo que alguns teimem em chamar bolha às promoções imobiliárias que escolheram mal as respectivas localizações, um país que tem património para reabilitar nos centros das cidades e património que pode e deve potenciar o turismo residencial, um país assim, como o nosso, pode e deve apostar no imobiliário para ajudar a sair da crise.
Como ainda há dias sublinhava, a construção de obra nova para fins residenciais tem vindo a diminuir. Mas esta inevitabilidade, que não exclusivamente consequência da crise, não inviabiliza, por exemplo, o crescimento da reconstrução, especialmente nos centros históricos das nossas principais cidades, muitas delas ainda muito degradadas urbanisticamente.
Os números falam realmente por si e tendem a ser mais rigorosos do que as palavras, ou de que algumas palavras. Há dias parecia que a única visibilidade era a de um crescimento das transações imobiliárias de prédios rústicos, hoje regista-se também o crescimento das transações de prédios urbanos.
O investimento no segmento residencial que se previa para o início de 2015 poderá ter antecipado a chegada. Boas notícias para o sector, mesmo que dadas com as devidas cautelas.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 19 de fevereiro de 2014 no Público