Num dos telejornais do passado Dia de Reis, se a memória não me falha, acompanhei com interesse uma reportagem recolhida em Beja, tendo ficado surpreendido com o facto de ser possível chegar à cidade de avião, mas ser menos prático sair dela de comboio. A via ferroviária de Beja a Lisboa implica transbordo na estação de Casa Branca e demora um mínimo de duas horas e dez minutos, se os horários forem cumpridos.

Não será prático optar pelo avião para chegar a Beja – há poucos voos (em média, aterra um de três em três dias), poucos passageiros (uma média de sete por dia) -, embora os objetivos deste investimento sejam, por esta ordem, servir a indústria aeronáutica da região, funcionar como aeroporto de estacionamento de aviões, facilitar movimentos de mercadorias e, por último, de passageiros.

Os aeroportos não têm de ser todos mais vocacionados para o tráfego de passageiros. Mas o mínimo que se pede numa cidade com aeroporto é que o caminho de ferro que a serve tenha padrões de qualidade adequados. Os comboios, até pelo trilho ambiental que geram, são hoje transportes de futuro. A Beja – cidade que possui um parque de feiras e exposições para toda a Região do Sul – ainda não chegou uma autoestrada nem comboios minimamente atrativos.

Não é pois de estranhar que, neste contexto, Câmara Municipal de Beja e Associação de Agricultores do Sul tenham dificuldade em chegar a um acordo sobre o modelo futuro para a gestão do parque de feiras e exposições. Isto, apesar da cidade albergar uma Escola Superior de Tecnologia e Gestão, que integra o Instituto Politécnico de Beja, e que é, pelas instalações e -presumo – pelo ensino aí ministrado, uma escola moderna cuja existência também justifica a urgência de outros investimentos em falta.

Na verdade, um Parque de Exposições como o que Beja possuiu tem de projetar-se para além da emblemática Ovibeja, a Grande Feira do Sul que este ano chegará à 30ª edição e que terá o seu ponto mais alto na mostra a realizar de 24 a 28 de Abril. As instalações do Parque de Exposições recebem outros eventos mas nenhum com a dimensão da Ovibeja sendo claro que aquela infraestrutura está preparada para muito mais.

Não direi, como na reportagem de um dos telejornais do Dia de Reis, que as prometidas mas ainda não concretizadas futuras instalações para a Biblioteca Municipal de Beja tenham ficado esquecidas a favor dos investimentos no Aeroporto, no Parque de Exposições ou nas belíssimas instalações da Escola Superior de Tecnologia e Gestão. Mas estes exemplos servem para dizer que os investimentos devem ser feitos com uma visão integral para que possam atingir os objetivos que os justificam.

Esta visão integral é válida para esta situação concreta e para situações idênticas de desaproveitamento de investimentos por falta de outros investimentos, como acontece também no Algarve. Usando o nome de uma conhecida iniciativa de Beja – a das “Palavras Andarilhas” – digo que em matéria de investimentos é preciso ser andarilho quanto baste (qb).

Luís Lima
Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP – 
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa.
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 01 de fevereiro de 2013 no SOL

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