Este ano, a catolicíssima Irlanda volta celebrar um Natal sem ‘troika’, terminados os três anos de programa de ajustamento. Dublin conseguiu livrar-se desta tutela sem programa cautelar e vai financiar-se nos mercados sem assistência externa.

Esta “restauração” formal da independência económica, assumida no passado dia 15, foi assinalada por múltiplas declarações políticas, todas elas a falar em mais Economia, em mais emprego, em crescimento e num progressivo alívio para as bolsas dos irlandeses, até pela via da diminuição dos impostos.

Lá, como cá, os senhores da “Troika”, técnicos superiores do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional, são uma espécie de cobradores de fraque a que associamos as mais insensíveis teses de austeridade sobre populações inteiras e totalmente indefesas.

BCE, FMI e UE que não são propriamente os três Reis Magos, sempre trazem, nas suas visitas, mais mirra, esse erva amarga, do que o perfumado incenso ou o valioso ouro e quando trazem algum será para ser devolvido com acrescidos lucros.

Integrei, há dias a delegação da Comissão de Monitorização da Lei das Rendas que foi recebida pela Troika e vi como estes técnicos estrangeiros parecem vidrados nos aumentos de receitas do Estado, até sem perceberem que, muitas vezes, para se conseguir, pela soma de todos, mais receita é preciso cobrar menos a cada um.

No que respeita às rendas, principalmente no segmento não residencial, tentei dizer-lhes que não basta liberalizá-las para que haja maiores rendimentos e, em consequência, mais impostos, mas não saí com a certeza de que tenham entendido o que quis dizer-lhes. Como eu invejo os irlandeses.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 21 de Dezembro de 2013 no Expresso

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