Todos os dias, em todas as páginas de todos os jornais, nas notícias de abertura dos telejornais e até na rádio, que é o meio de comunicação social mais amigável, lemos, vemos e ouvimos desnecessárias lapalissadas sobre a crise.
Um dia, alguém descobre que os bancos estão a emprestar menos às famílias e às empresas, no outro que houve um aumento do crédito malparado: tudo, entenda-se, bem sublinhado a negro e sem atenuantes como acontece quando verificamos que o malparado para o crédito à habitação mantém-se, em valores considerados confortáveis para as instituições financeiras.
Claro que num cenário de escassez generalizada de crédito, seja para as necessidades públicas seja para as necessidades privadas, num país onde o desemprego aumenta e onde diminui o poder de compra de quem tem emprego, aquelas evidências negras feitas manchetes são lapalissadas clássicas.
Mas nem o fantasma de Jacques de la Palice, o marechal francês que nasceu no século XV e morreu no século XVI, e que, involuntariamente doou o nome aos óbvios mais gritantes e proclamados, hoje conhecidos como lapalissadas, ousaria estar sempre a disparar contra o próprio pé como que a desencadear uma depressão pandémica.
Se há menos dinheiro haverá menos crédito e, consequentemente, critérios mais apertados para a respectiva concessão, como nem monsieur de la Palice diria. Ele, que estaria mais empenhado em descobrir receitas para fazer omoletes com poucos ovos, se aqui e agora vivesse.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 20 de Abril de 2011 no Diário Económico