Uma das heranças deste período conturbado que o nosso país está a viver, é a banalização, na nossa linguagem, de vocábulos fortes que outrora só utilizávamos no sentido real, diferentemente de agora, que os usamos em sentido figurado.
Muitas vezes, a própria imprensa é eximia na utilização de palavras ambíguas, que acabam por ser intepretadas de uma forma literal, colocando em causa a transparência de muitos artigos que se leem.
Um desses vocábulos é a palavra “lixo” este substantivo que traduz algo que repugna por estar sujo ou que se deita fora por falta de utilidade, conforme podemos ler em qualquer dicionário, cuja utilização tantas vezes critiquei às agências de rating, quando as mesma se referiam às dividas soberanas de Portugal.
Há dias, em resposta a uma questão que utilizava este termo, e na inércia de quem abusa dessa linguagem, esta palavra foi utilizada para adjetivar os ativos imobiliários ainda na posse de instituições financeiras que os herdaram sem querer, desvirtuando o real contexto das minhas declarações que ganharam uma interpretação completamente desalinhada com a minha verdadeira opinião sobre este tipo de imóveis.
Na verdade, nenhuma casa é lixo, nem mesmo as menos apetecíveis fixadas em localizações pouco atrativas. No entanto, para que sejam integradas num mercado que capte a real atenção de quem está interessado em investir, estas casas têm que ser alvo da merecida atenção dos seus proprietários, sejam eles quem forem, através da promoção de bons projetos de regeneração e reabilitação, permitindo assim a sua real integração no mercado.
Como é sabido, as melhores ofertas desse universo de imóveis “regressados” à banca já encontraram novos proprietários pelo que as menos boas têm dificuldades em concorrer com as ofertas ditas “normais”. Este factor, justifica que a própria banca volte progressivamente a abrir o crédito também para a aquisição de imóveis que não lhes pertencem. Mas a reabilitação destas casas é condição sine qua non para que a procura por estes imóveis possa ter uma dimensão ajustada ao seu real potencial.
O mercado imobiliário português está a voltar à normalidade, e prova disso mesmo é o aumento da procura nos primeiros dois meses do ano, mas cabe-nos a todos trabalhar a sua implementação.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 24 de março de 2014 no Diário Económico