Como que adivinhando novo “ataque” de cinzas, o jornal angolano Expansão, na edição de 7 de Maio último, dois dias antes da segunda vaga do Eyjafjallajokull, publicava um texto de Lucy Kellaway (distribuído pelo Financial Times), a demonstrar como uma nuvem terá ajudado à produtividade.
Retido em Luanda (por um dia nas previsões que me adiantavam no momento em que comecei a escrever esta crónica), não quero ser tão céptico como a articulista, para quem o cancelamento de reuniões onde “nunca se aprende nada de novo” ajudará à produtividade, mas quero falar da excessiva dependência do tráfego aéreo.
Prefiro a palavra retido à palavra encalhado que foi usada na tradução do artigo de Lucy Kellaway (LK), mas, diferentemente das reacções que ela descreveu como sendo as dos “encalhados”, não estou a dividir o tempo de espera entre sestas e ataques de fúria, nem estou disponível para criar uma Associação Internacional das Vítimas do Vulcão Islandês (AIVVI).
Não comento a ideia, plasmada no artigo de Lucy Kellaway, segundo a qual “as empresas funcionam melhor com menos gente, desde que, se reduza o número de reuniões, de conferencias e de viagens de trabalho”, mas sou sensível e tenho de lamentar que, as flores cultivadas no Quénia murchem à espera de voo, situação também citada por Lucy , aparentemente de forma irónica, o que julgo desadequado se, de facto, quis ser irónica nesta matéria.
As flores do Quénia são mercadorias que me merecem todo o respeito, produtos da terra cultivados para serem comercializados, e, para chegarem a todo o lado, eventualmente até a Dannii Minogue que, na informação de LK, não pode estrear roupa nova para grávida, naqueles dias do primeiro ataque do Eyjafjallajokull, porque a roupa ficou retida em Hong Kong.
A lição – aprendida aqui em Luanda onde fiquei retido quando pretendia regressar a Portugal, depois da assinatura da constituição da Confederação do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa (CIMLOP) – é que estamos todos, de Norte a Sul do Mundo, excessivamente dependentes do transporte aéreo.
Talvez o vulcão possa ser um pretexto para pensarmos nestas questões, e, para encontramos alternativas aceitáveis, pelo menos para as viagens de médio alcance, nomeadamente na criação de mais linhas ferroviárias de alta velocidade, projectos que, além do mais, podem gerar mais emprego e mais reuniões, preferencialmente úteis.
Penso que nunca, jamais e em tempo algum, haverá um TGV entre Luanda e Lisboa, mas como, por feliz coincidência, esta minha escala em Angola, mais alargada do que o previsto, coincide com a presença do Senhor Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Dr. António Mendonça, que nos honrou assistindo ao nascimento da CIMLOP, aproveitou este texto, a pretexto, para lembrar que as nossa linhas de alta velocidade ganham outra urgência, com esta história das nuvens de cinza que fazem murchar as flores do Quénia.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 12 de Maio de 2010 no Público Imobiliário