A espera que desespera o imobiliário português, há anos a reclamar espaço na primeira fila do esforço nacional para a recuperação económica, frente onde deve ter lugar cativo, sendo o nosso património construído uma das nossas maiores riquezas, essa desesperante espera ameaça ser mais longa do que a longa demora do rei de Ítaca, Ulisses, o afortunado marido de Penélope, que partiu para uma demorada guerra, a de Troia, ficando, ao todo, vinte anos ausente.

O poeta grego Homero retratou esta aventura de Ulisses num longo poema épico, a Odisseia, obra em cantos, que mais tarde inspiraria os Lusíadas de Luís de Camões, e na qual uma das histórias mais tocantes é a que revela os estratagemas da rainha Penélope para resistir às pressões que sobre ela se exerciam no sentido de casar com outro nobre, presumindo-se que tão longa demora do marido deveria necessariamente significar que ele estaria morto.

Num primeiro estratagema para atrasar a decisão das segundas núpcias, Penélope decidiu que escolheria um segundo marido mas só depois de tecer um pano que pretendia oferecer ao pai de Ulisses para que este, quando morto, nele fosse embrulhado como era costume na época. A rainha Penélope de dia tecia a mortalha mas à noite desfazia o trabalho feito para ganhar tempo, num jogo de faz e desfaz que durou três anos até ser denunciado por uma aia que a traiu.

Este jogo do faz e desfaz também está a adiar o futuro e a vocação do nosso imobiliário, cujas virtudes para colaborar na recuperação económica do país são unanimemente reconhecidas, nomeadamente quando falamos de Reabilitação Urbana, de Arrendamento Urbano, de Turismo Residencial. Vamos dando passos nesse sentido, mas quando estamos quase a dar um salto qualitativo decisivo para o sector, ou muda o Governo ou muda a tutela e o tecido que queremos tecer volta à estaca zero.

Esta longa e penosa odisseia do imobiliário português é tanto mais injusta e injustificável quando o imobiliário é um dos nossos tesouros, uma das nossas reservas de petróleo, uma riqueza construída que ganhou maior dimensão nos finais do século XX, por ter sido neste período que a descobrimos e identificamos como fazendo parte integrante de um mínimo denominador comum em matéria de qualidade de vida.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
Presidente@cimlop.com

Publicado no dia 26 de Julho de 2013 no Jornal de Notícias

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