Há dias, um proprietário de um imóvel interessado em colocá-lo no mercado de compra e venda contrariava um jovem comercial que tinha angariado aquele imóvel para mediação, baixando, significativamente face à sugestão do angariador, o valor pelo qual estava e estará disposto a vendê-lo.

No entusiasmo da angariação e no entusiasmo de certas leituras comerciais da oferta e da procura existentes no mercado imobiliário português, o jovem comercial – por sinal um jovem acabado de se licenciar em arquitetura que estava a ensaiar atividade como comercial imobiliário – sugeria um valor mais elevado para o anúncio da oferta.

Numa lucidez que às vezes não é fácil de encontrar em proprietários, este considerou o valor da sugestão elevado, fixando o pedido um pouco abaixo e dizendo uma frase que merece ser sublinhada aqui e agora – “Eu vendo por um preço inferior ao que sugere pois, na realidade, eu estou interessado em vender o imóvel e não tenho essas ilusões”.

Curiosamente o imóvel em causa tinha sido a habitação principal de seu proprietário que, entretanto, mudou de casa e quer vender a anterior. Na verdade, quem põe à venda a casa onde viveu tem tendência – especialmente se gostou de ter vivido nela – de pedir valores mais elevados do que os valores equilibrados do mercado.

Os argumentos – verdadeiros ou não – podem ser de muito tipo: já não se constrói como dantes, as áreas são muito generosas, etc, etc, etc. Quem vende gosta de apresentar os prós, quem comprar tenta identificar os contra. Como sempre, ou como quase sempre, quem está no meio é quem se apresenta sendo o mais virtuoso.

Infelizmente, na ânsia de queremos mostrar uma melhoria que realmente já se verifica, somos muitas vezes tentados em transformar os desejos em realidade e em considerar os aumentos que se verificam nos valores fixados na procura como sendo aumentos reais, o que está longe de acontecer.

O imobiliário português é um bom destino para investimento, está a captar muito investidor estrangeiro, da União Europeia e de fora da Europa, mas esta tendência real não se consolida se inflacionarmos o preço da oferta, tal como, num passado muito recente houve procura que fazia o contrário, na esperança de contagiar uma desvalorização artificial.

As casas não têm uma cotação como os metais preciosos e os valores pedidos não fazem o preço. Quem quer vender pode esperar que o preço das casas subam, tal como quem quer comprar pode esperar que os preços desçam, mas mascarar estes valores de forma muito subjetiva não é fazer mercado.

Num mercado cada vez mais determinado pela procura, a lucidez da oferta pode fazer a diferença. E não adianta pensar que aterram nos nossos aeroportos, todos os dias e a toda a hora, aviões e aviões superlotados de investidores cheios de dinheiro ou com acesso ao dinheiro para crédito que volta a estar barato.

Ser lúcido é não ceder à tentação da procura que gostaria de esmagar os preços e não ceder à tentação da oferta que gostaria se sobrevalorizar o que tem para oferecer. A lucidez é sempre o vector mais importante de um qualquer mercado, incluindo o mercado imobiliário.

 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
Presidente@cimlop.com

Publicado no dia 15 de Junho de 2015 no Jornal i

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