Não sou, nem nunca fui, grande entusiasta de manifestações políticas de rua, mas tenho de confessar que o protesto contra os cortes no número de bolsas de doutoramento e de pós-doutoramento que a Associação de Bolseiros de Investigação Científica organizou na passada terça-feira em Lisboa impressionou-me de forma muito profunda.

Se bem se lembram, chovia muito em Lisboa e, mesmo assim, algumas centenas de bolseiros, apoiados por cientistas e professores, manifestaram-se frente à sede da Fundação para a Ciência e Tecnologia e depois junto à residência oficial do primeiro-ministro. Em causa está o corte de mais 1.300 bolsas, incluindo doutoramentos e pós-doutoramento.

Numa primeira reação fui tentado a pensar que seria mais uma manifestação a reclamar subsídios, o que por vezes, muitas vezes, pode levar algumas pessoas a associar de imediato a iniciativa àquela ideia feita que se traduz na expressão subsídio-dependência (com toda a carga pejorativa que ela tem), mas depois ouvi, na Antena 1, um prestigiado catedrático português, das áreas da Física e da Biomédica, a falar sobre a situação e fiquei preocupado.

Ele disse que Portugal, a partir dos anos 90 do século passado, investiu na Ciência e no Conhecimento, conseguindo diminuir o fosso que, nesta matéria, nos separava da Europa. Com este investimento o país cresceu e, formou centenas de jovens, muitos dos quais brilhantes, em muitas áreas do saber.

Mas com o desinvestimento agora anunciado, o retrocesso será inevitável e, pior do que isso, a fuga para o estrangeiro dos jovens que o país formou acentuar-se-á e empobrecer-nos-á ainda mais do que já estamos.

Estancar esta sangria é de uma urgência absoluta. Mesmo considerando a existência de problemas financeiros, é preciso ver um pouco mais longe e perceber que, nesta área tão sensível, os ganhos dos últimos vinte anos poderão perder-se muito mais rapidamente sendo que a recuperação dessa possível perda será ainda mais lenta. Não estamos, realmente, em condições de desperdiçar a nossa própria inteligência e muito menos a nossa própria inteligência enriquecida pela Ciência e pelo Saber.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 27 de janeiro de 2014 no Diário Económico

Translate »