Um amigo meu, pessoa por quem tenho grande estima, escrevia-me há dias lembrando-me que, infelizmente, a sociedade portuguesa anda demasiadamente nervosa e excessivamente dada a convulsões. Dizia, cito, que não há praticamente nada que não seja objecto de impugnação ou de reclamação – nos partidos, nas empresas, nas associações, nos clubes.

Essa mensagem justificava-se pela experiência que eu estava (como ainda estou) a passar, enquanto dirigente do associativismo empresarial transformado em alvo preferencial de um pequeno grupo de pessoas empenhadas em ocupar, por meios não democráticos e com apoios internos e externos, uma associação empresarial a que presido, agora com o conforto de um reeleição expressiva apesar da triste campanha referida.

Torno pública esta reflexão – que preferia ter resguardado para o interior da associação – pelo facto de estar a enfrentar não uma oposição legítima com propostas naturalmente diferentes das minhas mas um grupo de detratores e caluniadores que mesmo depois de derrotado pelos votos continua a lançar, na praça pública, falsas e infundadas suspeitas sem o mínimo respeito pelo bom nome da própria associação que se propunham dirigir.

Não o faço para apresentar aquilo que seria a minha defesa – julgo que não preciso de o fazer, tão ridículas e patéticas são as acusações, e se precisar e quiser fá-lo-ei nos locais adequados -, mas para refletir um pouco sobre o desnorte que o momento que vivemos pode provocar em muita gente, desnorte tão perigoso que pode fazer-nos retroceder em muitos aspectos.

O associativismo empresarial, que não pode dissociar-se da sociedade onde está inserido, há muito que, felizmente, largou as estreitas amarras do corporativismo, em especial o corporativismo que sonhava com redes pouco claras de influências, mais particulares do que gerais, para ser agora um parceiro social que concilia os interesses específicos que representa com os interesses da Economia e do país mais a mais em contextos de crise como o que se vive.

A consciência de que os interesses da Economia e do país, quando corretamente avaliados, são os que melhor servem os interesses de todos os grupos empresariais, mesmo que, aparentemente e a curto prazo, outras estratégias possam criar a ilusão do contrário, é a pedra de toque que faz a diferença. É mesmo a fronteira entre a serenidade, com debate entre as diferenças de opinião, e o populismo mais primário a tentar impor o que querem fazer crer que parece mas na verdade não é.

Teria sido pessoalmente mais fácil recolher ao conforto da minha vida privada, prestando exclusiva atenção às minhas empresas, do que manter a minha atividade pública no associativismo empresarial, enfrentando situações pontuais de desnorte, incómodas. Mas a defesa da serenidade e da consciência que o país precisa, em todos os domínios da sua atividade, determinou a minha escolha.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 04 de Dezembro de 2013 no Público

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