Todos os dias nascem novas empresas de mediação imobiliária em Portugal. Em 2017, licenciaram-se 1.385 novas mediadoras, mais 30% que no ano anterior.

Os números evidenciam a dinâmica do sector imobiliário e o seu potencial de crescimento (que em dois anos cresceu 50%), que tem chamado a atenção de investidores, nacionais e estrangeiros, alargando o leque e oportunidades que se abrem nos diferentes segmentos de mercado, desde a reabilitação até ao alojamento local.

Este crescimento do imobiliário nacional, é muito positivo para a Economia e para o sector, mas tem duas faces da mesma moeda. Por um lado, a profissionalização dos agentes imobiliários, que estão cada vez mais preparados para atuar neste mercado, apostados na sua formação e em cumprir a legislação que regula o sector obedecendo à ética e transparência que promove a credibilidade da classe e a defesa do consumidor.

Por outro lado, a proliferação de “empresas” e “agentes” que atuam à margem da lei, e se aproveitam das dinâmicas do mercado para ganhar dinheiro sem obedecer às regras decretadas para a atividade, nomeadamente no que diz respeito ao combate ao branqueamento de capitais.

O cenário mudou completamente desde a crise que abalou o sector. Passámos de um panorama em que a procura dominava a oferta, para um momento em que é a oferta que domina o mercado, tal é a ausência de stock que se começa a sentir. E isso tem feito com que alguns “agentes” percam completamente o conceito de ética profissional que deveria predominar.

A mediação imobiliária tem hoje um valor inegável no panorama económico. Os agentes são responsáveis por uma boa parte do PIB nacional e isso acarreta alguma responsabilidade. Como tal, essa responsabilidade deve ser assumida, e por isso é necessário que haja uma fiscalização mais atenta a quem exerce mediação imobiliária sem estar devidamente atestado para tal. A defesa do consumidor é tão importante para a procura como para a oferta, e é por isso que os profissionais que atuam legitimamente neste terreno, são aqueles que melhor podem assessorar o mercado.

Neste panorama, a APEMIP reúne as condições necessárias para assumir esta responsabilidade, e as empresas de mediação já o reconheceram, através de um inquérito que foi promovido junto delas no ano passado. 90% do mercado exige a autorregulação da classe, e mostra que este objetivo é não só alcançável como desejável.

Desta evidência, resulta a legitimidade de reclamar competências acrescidas, através de uma autorregulação que combata a concorrência desleal, a falta de ética, a falta de transparência e a falta de proteção dos clientes. Melhor que ninguém, a classe conhece bem os problemas que a atingem, e será mais ágil e eficaz na promoção de uma fiscalização feita em parceria com o Estado, promovendo desta forma um sector mais fidedigno e transparente.

Tudo isto num processo que, naturalmente, levará o seu tempo, mas que deve começar pela delegação de poderes à APEMIP que permitam a verificação e supervisionamento do mercado.

Só assim impediremos a multiplicação de quem recorre a estratagemas que descredibilizam os mediadores.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luislima@apemip.pt

Publicado no dia 04 de abril no Jornal Público

Translate »