Certas avaliações de imóveis, bem oportunas para que seja mais aceitável, aos olhos do público, o aperto que por aí vai em matéria de concessão de crédito para a habitação, podem até ser compreensíveis, mas estão a ter efeitos perversos ao marcar como especulador quem sabe avaliar correctamente.

Já disse publicamente – reafirmando-o sem qualquer risco de desmentido – que algumas transacções imobiliárias apalavradas foram anuladas a pretexto da discrepância existente entre a avaliação real, feita por quem conhece o terreno e a avaliação encomendada, avaliação agora encomendada em baixa.

Brincando com as palavras, diria, sem querer ser o justiceiro de certas situações, que está na hora de reciclar alguns ditados populares, quase como quem reabilita um centro histórico de uma cidade. E nesta reabilitação eu substituiria o velho “quem desdenha quer comprar” por uma versão mais actualizada, e que, poderia ser “quem desdenha não quer emprestar”.

Isto, apesar do caso não ser para brincadeiras. É que esta moda das avaliações em baixa acaba por prejudicar quem, como os mediadores imobiliários que ainda esperam ver esta competência consagrada na lei, avalia seriamente, à luz dos valores de mercado, mesmo correndo o risco de passar por um mero especulador.

Em Portugal, como tenho vindo a dizer, os mediadores imobiliários são, há muitos anos, avaliadores de imóveis de facto, apesar de terem de esconder esta condição, para não incomodar os que são avaliadores de direito e tentam manter a exclusividade desta função. Nós, mediadores imobiliários, muito mais equidistantes da oferta e da procura do que outras…

Que haja prudência nos financiamentos, num contexto difícil para o mundo financeiro como o actual, compreende-se. Mas, que esta prudência se transforme num arremedo de avaliação e se manifeste numa avaliação forçadamente em baixa que lança o labéu da especulação sobre as avaliações reais, não só não se compreende como é falta de ética.

Hoje, quando alguém procura um mediador imobiliário para lhe requisitar serviços que o ajudem a comprar ou a vender indeterminado ou determinado imóvel, sabe, e pode continuar a confiar, que a resposta do mediador à clássica pergunta “quanto vale esta casa?” é a que mais perto pode andar de um preço realmente justo.

É que, mediar não rima com especular, mesmo que haja quem, tentando desviar as atenções do essencial para o acidental, insista em querer fazer crer que o preço é mais elevado do que o das avaliações, pelo suposto facto dos mediadores imobiliários quererem sempre vender mais caro para mais poderem receber. Esta é uma lógica eticamente inaceitável.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 9 de Abril de 2010 no Sol

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