Polémicas políticas à parte e sem sacudir a água do capote, em regra sobre os mensageiros que, modernamente, são os jornalistas, como ainda há dias um alto responsável europeu, amigo de Portugal, o fez, emendando declarações que disse ter proferido sem querer por terem sido recolhidas numa sala desconfortável e com muitos holofotes, polémicas à parte, importa escolher com serenidade que caminho seguir na encruzilhada que se abriu com o precedente das novas regras negociadas com a Grécia, como o alargamento do prazo de reembolso dos empréstimos europeus.

Cavaco Silva e Paulo Portas parecem estar de acordo quanto à possibilidade de Portugal ver reduzida a comissão que paga pelos empréstimos europeus e ter um alargamento do prazo de reembolso, apesar de ambos reconhecerem que o país vive uma situação muito diferente da Grécia. Confirmando esta sintonia com o Presidente da República, o ministro dos Negócios Estrangeiros lembrou que essa é também a posição do Governo.

O Presidente Cavaco Silva, recorde-se, não encontra “razão para que não seja reduzida a comissão que é cobrada a Portugal pelos empréstimos que recebeu do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira”, nem razão “para que não seja alargado o período de reembolso dos empréstimos do Fundo de Europeu de Estabilidade Financeira”.  Esta possibilidade do alongamento de maturidades dos empréstimos, com implicações favoráveis nos juros, foi também admitida pelo Primeiro Ministro Passos Coelho no recente debate quinzenal do Governo com a Assembleia da República.

Na véspera, vozes de peso da mesma área política do principal partido do Governo insurgiam-se contra a possibilidade de Portugal requerer mais tempo e, pressupõe-se, mais dinheiro, alegadamente porque que tal conduzirá a um segundo resgate e a novas e mais duras exigências. No dilema que estas posições levantam opõe-se a tese de uma austeridade que está nos limites do suportável (para muitos já a ultrapassar esses limites) à tese de necessidade imperiosa de aliviar essa carga apostando no crescimento económico que gera endividamento.

Está ainda viva na memória de todos uma recente entrevista da Dra Manuela Ferreira Leite, antiga ministra das Finanças e antiga líder do PSD a insurgir-se contra o que considera ser um excesso de austeridade e a lembrar que as políticas devem ter sempre em linha de conta a capacidade das pessoas a quem se destinam, sob pena de falharem redondamente apesar de poderem ser as políticas ideias para atalhar rapidamente uma situação critica. Esta avaliação serena é realmente incompatível com as indisfarçáveis diferenças de opinião sobre matéria tão sensível, até mesmo dentro do quadrantes políticos supostamente em sintonia.

No difícil quadro de aperto que vivemos, estas divergências, mesmo que pouco profundas, projectam no exterior uma imagem de Portugal menos atractiva do que a que queremos que exista, até para a nossa própria credibilidade internacional. e minam, no interior, a própria capacidade de mobilização necessária para ultrapassar uma crise que é real, que nos afecta a todos, ou a quase todos, e para a qual temos de encontrar soluções. Desde logo com a adopção de outro paradigma em matéria de debate político que ajude a dotar Portugal de uma melhor imagem no exterior e de uma maior mobilização interna.

Luís Lima Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 12 de dezembro de 2012 no Público

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