Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatísticas INE e avalizados pelo Ministério da Justiça, a quebra das transacções imobiliárias realizadas em 2009, comparativamente com o ano de 2008, rondou os 16%, percentagem perfeitamente normal num mercado que viveu um recente “boom” imobiliário e onde uma esmagadora maioria da população residente é proprietária da casa que habita.
A leitura dos números, mesmo tendo em conta a objectividade dos próprios números, remete-nos para alguns situações conjunturais, uma das quais é, seguramente, a que resulta do excesso de cautelas do sistema bancário, a gerar subavaliações que possam ajudar a justificar os apertos em matéria de crédito para a habitação. Longe vão os tempos em que os bancos disputavam clientes interessados em crédito para aquisição de casa própria.
Mas a análise destes números leva-nos, também, a uma verificação muito curiosa, a que aponta para uma clara subida da percentagem das transacções imobiliárias que se concretizaram pelo recurso a empresas de mediação imobiliária – cerca de 65% do total quando, ainda há bem pouco tempo, não chegavam a metade.
Esta crescente confiança no papel insubstituível da mediação imobiliária no mercado imobiliário português é a prova, provada (passe o pleonasmo), de que, a mediação imobiliária acrescenta valor ao sector, e, não apenas pelo inequívoco papel de aproximação da oferta e da procura num quadro de claro desfazamento destes dois vectores do mercado.
É mais do que evidente – e não seria necessário recorrer a estatísticas para o comprovar – que os mercados muito dependentes de produtos especiais como o são as segundas residências ou o turismo residencial, sofrem mais em momentos de menor euforia, embora a oferta portuguesa nesta área seja muito competitiva relativamente à de outros mercados.
O momento nacional, europeu e mundial não será famoso para gerar euforias em matéria de investimentos imobiliários, mas não podemos reduzir estes números a esta conjuntura, pois se o fizermos, estamos a ignorar essa velha máxima que diz que o número de transacções imobiliárias é como as árvores, isto é, não cresce até ao céu.
Esta realidade não só é natural como até é saudável para um país que não se quer impermeabilizado pelo cimento. Como saudável e sinal de maturidade é o facto de estar a crescer o número de transacções imobiliárias, que se concretizam com a mais valia da intervenção da mediação imobiliária.
Publicado dia 6 de Agosto de 2010 no Diário de Notícias