O jornalista Camilo Lourenço, que foi moderador num debate sobre mercados em que participei no recente Congresso de Inovação na Construção Sustentável, realizado em Aveiro, contou, para ilustrar a ilimitada imaginação no desafio de criar mercados, uma curiosa situação que ele testemunhou no país africano onde nasceu.
Ao visitar um mercado de rua, bem popular, o jornalista viu uma banca improvisada onde uma mulher estava a vender lâmpadas fundidas. Surpreendido com o insólito desta oferta, perguntou à vendedeira a razão pela qual ela tentava vender tais lâmpadas, pergunta que provocou o rápido abandono do mercado por parte da mulher.
Mais tarde, já reunido com amigos locais, o jornalista Camilo Lourenço quis esclarecer aquela insólita oferta de lâmpadas fundidas e descobriu, para maior surpresa, que os amigos não ficaram admirados. Segundo eles, tais lâmpadas são procuradas por pessoas interessadas em substituir lâmpadas boas por fundidas, em casas onde trabalham, para posteriormente venderem as lâmpadas boas que assim conseguem de forma fácil.
O único mérito desta realidade – verdadeira ou ficcionada, não importa – reside no facto desta ideia de mercado estar centrada em pessoas e na imperiosa necessidade que muitas delas sentem em encontrar soluções que minimamente garantam meios de sobrevivência. Sem prejuízo de condenar um tal expediente que nem Robin dos Bosques justificaria, até pelo simples facto de ter vivido num época sem lâmpadas.
Todos os mercados devem funcionar em função das pessoas que neles se movimentam, seja pelo lado da oferta seja pelo lado da procura, e todas as teorias económicas, se quiserem ser pragmáticas e equilibradas, devem ter em linha de conta a inevitabilidade dos mercados só existirem quando povoados por gente que procura o melhor encontro entre quem compra e quem vende.
Isto é de todo em todo incompatível com atitudes especulativas, com amarfanhamentos artificiais de preços, com desprezo por quem depende profissionalmente dos próprios mercados, como transpareceu, em alguns momentos de forma mais evidente de que noutros, no debate sobre mercados que animou o recente Congresso de Inovação na Construção Sustentável, nomeadamente quando a riquíssima discussão esteve centrada no mercado imobiliário português – um mercado que ninguém contestou como importante para a superação da própria crise.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
luislima@apemip.pt
Publicado no dia 28 de setembro de 2012 no Jornal de Notícias