Os mercados internos dos países, mesmo em tempo de crise, também contam e muito para o próprio crescimento económico e isso pode notar-se dramaticamente em países com pouca população, incluindo o Luxemburgo que é o pais de maior poder de compra da União Europeia e está, como muitos outros, a sentir os efeitos dos planos de austeridade.
Directamente relacionado com a diminuição do poder de compra de muitos mercados internos está o aumento generalizado do desemprego, tendência que se inscreve num ciclo vicioso complexo mas que também pode radicar na tentação cega de acudir, em exclusivo, ao problema, também grave, que resulta da necessidade de diminuir endividamentos públicos e privados.
Neste jogo de forças, entre a necessidade de manter Estados com as preocupações sociais que fazem a matriz da Europa comunitária e a necessidade de criar condições para que a Economia possa gerar a riqueza suficiente para assumir aquelas obrigações, o pior será esquecermo-nos que tudo isto só funciona em nome e no interesse das populações.
Daí esta minha insistência, bem pertinente apesar da insistência, em lembrar que o sector da Construção e do Imobiliário poderá, só pela via da Reabilitação Urbana, recuperar dezenas de milhares de postos de trabalho perdidos e contribuir para estancar um dos problemas mais graves da nossa realidade que é o do aumento desemprego.
Isto exige uma visão política de horizontes largos que não se prenda aos resultados positivos mais fáceis e imediatos, nem sempre os melhores pelos efeitos colaterais perversos que podem gerar. Isto exige que saibamos olhar também para dentro, para o mercado interno, numa palavra para quem sofre ou beneficia com as opções de cada momento.
É difícil saber encontrar o equilíbrio numa teia de forças tão complexa, mas em situações desta natureza eu pergunto sempre se alguém, em alguma circunstância, acha aceitável que um automobilista possa atropelar, mesmo que levemente, um peão que teime em atravessar uma passadeira quando o sinal para os peões está vermelho?
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 28 de Junho de 2011 no Jornal de Notícias