Cerca de 75% da população portuguesa que tem rendimentos provenientes do trabalho ganha menos de mil euros mensais, sendo ainda de sublinhar que no universo dos portugueses com emprego 21,2% ganham até 505 euros, 20,5% de 505 a 600 euros e 33,5 % de 600 a 1000 euros. Isto mostra que nem mileuristas somos.

A palavra mileurista identifica um jovem europeu, de formação académica superior, licenciado com mestrado e outros graus ainda mais qualificantes, fluente em línguas, principalmente no Inglês,  que vive em casa dos pais, não tem filhos, não tem património e aufere um rendimento que ronda os mil euros ao mês.

Sabemos todos que esta realidade não é a portuguesa. Os nossos mileuristas ganham, quando ganham, quinhentos euros, sendo a remuneração base mediana da população ativa de 642 euros referidos aos valores brutos por trabalhador por conta de outrém a tempo inteiro. Abaixo da média Europeia em que julgamos estar inseridos. 

Perante estes números, que nem sempre estão presentes nas nossas apreciações sobre os rendimentos indexados ao trabalho, soluções para a competitividade da nossa economia que passem pelo possível recurso à diminuição dos salários mais do que soar mal, pelo menos aos ouvidos de três quartos da população ativa, não parecem vocacionadas para terem sucesso.

As Economias de sucesso mais consistentes têm em comum a consolidação e o reforço das classes médias, grupo ao qual dificilmente acedem aqueles que ganham mil euros por mês. Não solucionar esta contradição é contribuir para o colapso dos modelos de sociedade baseados nas Economias de Mercado, com todas as consequências inerentes.

E o colapso do desenvolvimento sustentado de Portugal, no seio da Europa, será o colapso de parte da Europa, pois os chamados efeitos de dominó, também conhecidos pela expressão mais complexa de contágio sistémico, não são perigos exclusivos do sistema financeiro. 

Não se trata de viver acima das nossas possibilidades. Trata-se de viver, que é diferente de sobreviver, ou seja, trata-se de viver de acordo com os padrões da Europa a que pertencemos de pleno direito.

Luís Lima
Presidenta da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 28 de Março de 2016 no Diário Económico

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