Li, num semanário de referência, que alguns técnicos da Moody’s, uma das agências das notas de crédito, as famigeradas agências de rating, terão ficado muito preocupados quando, de passagem por Lisboa, alguém lhes disse que os muitos milhares de euros que os portugueses pediram emprestados teriam sido aplicados no imobiliário da capital portuguesa.

As avaliações da Moody’s têm sido alvo de fortes críticas, principalmente depois de se saber que tinham dado boas notas ao banco de investimento norte-americano Lehman Brothers poucas semanas antes dele falir, num erro semelhante ao que terão cometido relativamente à banca islandesa e à “quase bancarrota do país”, para citar a Wikipédia.

É claro que, mesmo sabendo-se que os especialistas da Moody’s não são infalíveis, é preciso ter muito cuidado com quem tem o poder de avaliar as opções de investimento de um país, em operações tão delicadas quanto potencialmente injustas como poderão ter sido as da “reavaliação do risco da República Portuguesa” que trouxe aquela equipa a Lisboa.

Na sequência daquele olhar sobre os telhados de Lisboa, obtido num miradouro nas imediações de um dos presumivelmente bons restaurantes da capital, a Moody’s baixou a nota atribuída a Portugal e todos nós, que não temos direito a revisão de provas, passamos a pagar, directa ou indirectamente, juros mais elevados pelos nossos empréstimos.

Estes Mistérios de Lisboa não são, seguramente, aqueles que deram corpo ao filme homónimo de Raul Ruiz, película recentemente estreada, que ganhou a concha de prata no Festival de San Sebastián.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 3 de Novembro de 2010 no Diário Económico

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