Num estudo comparado entre 14 países europeus, Portugal é o país que regista a maior taxa de excesso de mortalidade no Inverno, sete pontos acima dos países que ocupam o segundo lugar, Espanha e Irlanda, ambos com 21 % .

Este excesso de mortalidade decorre, segundo os especialistas da Universidade de Dublin que coordenaram este estudo, desenvolvido durante dez anos e com constante cruzamento de dados, este excesso decorre por falta de condições de isolamento e aquecimento nas casas.

Como sublinham os autores do trabalho, paradoxalmente  “as maiores taxas de mortalidade ocorrem em países onde o Inverno é menos severo, e onde deveria haver menos potencial/tendência para casos de gripe e para a mortalidade relacionada com a gripe”.

Estes países, de climas mais temperados, são tentados a dar menos atenção à eficiência térmica das habitações, sob o alibi, entre muitos outros do bom tempo, alibi que se desmorona no Inverno quando é difícil manter estas casas quentes.

Esta realidade revela uma potencial ausência de qualidade de vida, descobre desigualdades sociais insuspeitadas, e mostra uma inaceitável incapacidade para obter uma verdadeira eficiência energética pelo isolamento das habitações.

Comparativamente com os “níveis exemplares” de eficiência térmica obtidos nas casas de países com Invernos rigorosos, como a Finlândia e a Suécia, a nossa realidade merece uma maior reflexão, principalmente na hora do licenciamento e da construção dos imóveis.

A saúde das populações, também passa pela qualidade da habitação que podem usufruir, como aliás, se infere pela simples leitura do enquadramento do projecto ‘Habitação e Saúde’, promovido pela Organização Mundial de Saúde, a que Portugal também aderiu, na perspectiva de identificar e solucionar as fragilidades do nosso país nesta matéria.

Quando reconhecemos que o sector imobiliário em Portugal está a viver um momento de transição do ciclo da quantidade para o ciclo da qualidade, estamos, também, a pensar que, a construção e a reconstrução de património imobiliário deve contemplar confortos que podem evitar mortes muito mais prematuras.

A morte é sempre prematura, mas, morrer de frio, no Inverno, é, estou certo, um dos destinos mais tristes entre todos os destinos tristes. Antes morrer de amor. Nem no Inferno se morre assim – lá, no Inferno, parece haver, pelo menos, aquecimento central permanente. É que o Inferno não tem a ilusão de possuir clima ameno.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 12 de Março de 2010 no Sol

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