Ao contrário dos seres humanos, que dificilmente conseguirão consumar um suicídio por estrangulamento com as próprias mãos, há instituições colectivas que podem gerar condições análogas propícias à sua própria destruição, mesmo que de forma involuntária.
As instituições, sejam elas quais forem e julgando-se ou não detentoras de poderes quase ilimitados, que dificultem o acesso ao crédito de muitas empresas, mesmo que pequenas e médias empresas, estão a cavar, na verdade, a própria sepultura e correm riscos brutais a médio prazo.
Dificultar o acesso ao crédito à esmagadora maioria do tecido empresarial português é contribuir para a diminuição da criação de riqueza e contribuir para o aumento do desemprego, dois efeitos e sintomas perigosos para a manutenção da sociedade tal como a idealizamos e fomos construindo.
A irreversibilidade de um tal ciclo acabará por atingir toda a gente, mesmo as instituições que se julgam imunes a situações desta natureza, só pelo facto de não precisarem, no presente momento, da seiva que alimenta as sociedades assentes em economias de mercado, ou seja, de capital.
Os sistemas económicos ou, melhor dizendo, os conjuntos de economias de vários países, não são equações matemáticas mais ou menos assépticas, inodoras e incolores. Comportam-se como seres vivos e devem ser assim tratados, desde logo pelo facto de, só existirem para satisfazer os seres humanos que neles vivem.
Olhar para esta realidade, como quem olha para uma experiência laboratorial e ensaia um remédio cuja dose ou efeitos secundários possam ser fatais, é tentação a evitar.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 19 de Março de 2011 no Expresso