O mercado imobiliário continua na sua rota de crescimento, que se manifesta nos números oficiais das vendas de casas. De acordo com os dados oficiais recolhidos pelo Gabinete de Estudos da APEMIP – Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, no primeiro semestre de 2018 transacionaram-se 86.335 alojamentos familiares, mais 19,8% do que no período homólogo, tendo-se registado o melhor semestre de sempre desde que há registos oficiais, e totalizando valores de venda na ordem das 11.6 mil milhões de euros.
Esta dinâmica positiva que se regista no mercado não é uma surpresa, e poderia até ser superior, se o os preços nos centros das cidades não estivessem tão longe do alcance das famílias portuguesas e se o stock imobiliário existente assim o permitisse. No entanto, há cada vez menos oferta, o que faz com que o mercado de usados ganhe cada vez mais importância no mercado. Em cada 10 casas vendidas, nove são usadas, o que não deixa de ser revelador das ausência de construção nova nos últimos anos, motivada pela crise que afetou o sector e que agora não deixa de ter consequências no panorama habitacional das principais cidades.
Atualmente, o facto de haver mais procura do que oferta tem feito com que preços estejam mais elevados do que seria desejável e a única forma de os aliviar será a introdução de novas casas no mercado. Neste momento, o mercado nacional apresenta uma lacuna na ordem das 60 a 70 mil casas. Mas estas habitações têm que se adequar ao perfil da procura. Não adianta haver cada vez mais construção de habitação nova, se esta não for adequada às necessidades de quem procura casa.
Ainda há margem para vermos o imobiliário crescer mais. Tendemos a ver o imobiliário através das grandes cidades, mas o sector é muito mais do que isso e o interior do País tem muito potencial para atrair investimento. Só que esse, não chegará se continuarem a ser veiculadas notícias, nomeadamente na imprensa internacional, que acenam com propostas feitas para elevar a fiscalidade sobre o sector.
Notícias como o eventual fim do Regime Fiscal para Residentes Não Habituais, a introdução de um novo escalão no AIMI ou a chamada “Taxa Robles”, têm impacto negativo na perceção de eventuais investidores estrangeiros, que recuam perante a possibilidade de ver as regras mudar a meio do jogo. Mesmo que estas medidas não sejam aprovadas, a sua repercussão mediática corre o mundo, e pode bem impedir que a descentralização do investimento imobiliário se continue a fazer como, aos poucos, se tem vindo a notar.
É ingenuidade dos nossos políticos pensar que já está tudo feito no que a este sector diz respeito, e que há excesso de estrangeiro a comprar casas em Portugal. Não há em excesso. O problema seria haver excesso de oferta e não haver procura. Mas aqui o que se passa é o contrário. Como em qualquer negócio, o que é preciso é que haja clientes. E nós temo-los. Estrangeiros sim, mas não podemos também esquecer que foram estes que nos ajudaram a sair do buraco da crise, quando sector tinha muitas dificuldades em ver a luz ao fundo do túnel. A captação de investimento estrangeiro foi bem feita e foi essencial. E vai, se assim o deixarmos, chegar às zonas do País que mais precisam dele.
Mas para isso, é preciso que não estraguem aquilo que está bem.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
Publicado no dia 26 de setembro no Jornal Público