Ter ou não ter competência para avaliar imóveis, eis uma questão que já não se reduz ao problema de saber quem é quem neste campo, em matéria de exclusividade ou não de funções.
Em Portugal, os mediadores imobiliários são, há muitos anos, avaliadores de imóveis de facto, mesmo escondendo esta condição, para não incomodar os que são avaliadores de direito e tentam manter a exclusividade desta função.
Sabemos que muitas das avaliações de imóveis são assinadas de cruz, com base nas informações solicitadas por mediadores imobiliários que conhecem o terreno, e que sabem a cotação imobiliária da oferta e da procura.
É que, o conhecimento do terreno, um dos traços mais caracterizadores da nossa actividade profissional de mediadores imobiliários, é condição “sine qua non” e quase suficiente para a avaliação imobiliária.
Embora preparados para deixarmos de ser apenas avaliadores de imóveis de facto, como quem nos procura, pede e quer, o que pedimos hoje, aqui e agora, é seriedade na avaliação dos profissionais para que estes “amadores” não sejam vistos como os maus da fita.
É que, o sobe e desce das avaliações de imóveis tem vindo a ser determinado por interesses de terceiros – em regra da banca – e desce quando há pouco interesse em alargar o crédito para a habitação. Subindo, como já aconteceu, quando a vontade dos bancos era outra.
Que a banca não queira arriscar financiamentos a 100%, num contexto difícil para o mundo financeiro, compreende-se. Mal, mas compreende-se. Mas que mascare essa vontade no valor, supostamente rigoroso de avaliações de imóveis claramente deflacionadas, já não é aceitável.
É que,nestes casos, em muitos destes casos, os valores justos que a mediação imobiliária lança sobre determinados bens imobiliários são “desmentidos” pelos valores deflacionados pelas avaliações “profissionais”, e nós aparecemos aos olhos de muita gente como os maus avaliadores da fita, como aqueles que querem elevar, artificialmente, os preços.
Já se desfizeram transacções imobiliárias apalavradas por força desta discrepância. É que, ainda há quem acredite mais nas avaliações, mesmo distorcidas, que se fazem em nome de instituições de peso do que nas avaliações, estas sim rigorosas, de quem conhece o terreno. Com todas as consequências negativas para todos, sem excepção.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 24 de Março de 2010 no Público Imobiliário