Não somos nem podemos ser eternos escravos dos nossos credores. Esta declaração de vontade não significa que estejamos disponíveis para deixar de pagar o que devemos. Significa que temos de ter condições para conseguir gerar riqueza suficiente para pagar as dívidas, crescendo e criando, para todos nós, melhores condições de vida, desde logo pela criação de mais emprego produtivo.

Não equacionar o nosso presente assim é hipotecar o nosso futuro e o futuro de muitas gerações vindouras que herdarão, não o estatuto de cidadãos europeus de pleno direito mas um estatuto semelhante ao de escravos eternos de credores que dificilmente deixarão de ser nossos credores, e que até – em alguns casos – sonharão em manter eternamente esta relação.

É bom recordar que nós somos membros de pleno direito da União Europeia, que criou com as autonomias adequadas um Banco Central Europeu, e somos membros de pleno direito do Fundo Monetário Internacional (FMI), considerado um dos pilares do ordem económica mundial que se seguiu ao fim da II grande Guerra. E como numa simples mútua, das muitas que existem em Portugal, podemos receber empréstimos e apoios de um bolo para o qual contribuímos quando a ele aderimos.

Os planos de resgate das nossas dívidas não podem ser vistos como uma manifestação da suprema caridade dessa entidade que se chama Troika, a quem não temos de estar necessariamente agradecidos. Temos direito, em condições negociadas, a tais apoios (foi precisamente para os prestar que se  criou o FMI , fundo a que a esmagadora maioria dos países da ONU pertence), mesmo que tecnicamente alguns funcionários, nacionais e estrangeiros, queiram interpretar essa colaboração mutuária como uma mitigada perda de soberania.

Na verdade, temos de assumir as nossas obrigações, mas fazemo-lo perante instituições a que nós também pertencemos, em pé de igualdade com todos os demais países membros, e temos ou deveríamos ter, neste contexto, uma palavra muito importante a dizer do lado de quem presta esse apoio que nos é devido pela própria natureza da instituição que o presta. Isto faz muita diferença e às vezes parece que  o esquecemos.

É nossa obrigação, enquanto membros de pleno direito da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, lembrar que, as condições de concessão dos empréstimos necessários têm de contemplar as condições mínimas para que sejam realmente empréstimos concedidos para solucionar problemas pontuais, mais ou menos dilatados no tempo, e não vínculos leoninos de submissão a longo prazo. Isto implica que o apoio privilegie o crescimento que gera riqueza e fará com que consigamos pagar as dívidas e as quotas normais por pertencermos a tais organizações.

Qualquer membro de uma associação de socorros mútuos percebe isto.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliária de Língua Oficial Portuguesa

Luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 16 de novembro de 2012 no Sol

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