Li, em recente reportagem de uma jornalista portuguesa, que um bancário irlandês (bancário, não banqueiro) cinquentão despediu-se do banco onde trabalhava pela vergonha que sentia por pertencer ao sistema financeiro que endividou o “tigre celta” gerando a divida soberana que mergulhou o país numa crise profunda.

A profissão de bancário, entre nós durante anos e anos muito apreciada, sempre esteve na fronteira entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. Mais obrigado a rotinas do que aberto a actos de criatividade, o bancário sofre uma pressão permanente por estar no coração do sistema e por conhecer, como poucos, as glórias e as misérias desse mesmo sistema.
 
Numa Irlanda cuja banca não parou de contrair empréstimos para os investimentos de alto risco que “suportavam” crescimentos insustentáveis de 10% ao ano, num país assim, onde agora sobram condomínios de luxo sem qualquer condómino apesar de prontos a estrear, não admira que aumentem as depressões e que os bancários mais conscienciosos queiram demitir-se.
 
A existência de áreas habitacionais fantasma, como as centenas que estão identificadas na Irlanda, é um sinal claro de “bolha imobiliária”, de uma realidade assustadora com vivendas e vivendas de jardins ainda bem tratados em cujos arruamentos não se vê um carro estacionado ou uma simples bicicleta a aguardar o ciclista.
 
Nós, em Portugal, não estamos viver situações semelhantes, apesar de alguns quererem fazer crer que sim. Não somos um tigre ferido.
 
Luís Lima
Presidente da APEMIP
(luis.lima@apemip.pt)

Publicado no dia 07 de Setembro de 2011 no Diário Económico

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