No mercado imobiliário português não há zonas de conforto especiais, nem quando toca a tentar escoar ativos imobiliários acumulados na banca contra a vontade e o interesse da própria banca. A comercialização destes imóveis contempla dificuldades específicas que devem ser equacionadas e resolvidas, sob pena de ampliarem o próprio problema que está subjacente a esta situação particular do mercado.

Não basta vender barato e oferecer condições excecionais de financiamento a quem opte pelas chamadas casas dos bancos. Ao ciclo vicioso da potencial venda ao desbarato soma-se, agora, o problema dos clientes interessados em tais bens imóveis que, para poderem comprar uma dessas casas, precisam de vender o imóvel onde vivem. É que, muitos dos clientes interessados nestas oportunidades são proprietários que não podem acumular propriedades.

Se se pretende ter êxito no financiamento a cem por cento da compra dos imóveis acumulados na banca, com eventual isenção de taxas e com “spreads” muito favoráveis, começa também a ser necessário oferecer idênticas condições de financiamento aos potenciais interessados nos imóveis que possam ter de entrar, inevitavelmente, no mercado da compra e venda, para que a primeira transação se faça.

Nem toda a procura neste mercado que alguns sonham ser de boa ocasião é constituída por quem procura uma solução habitacional no mercado de compra e venda pela primeira vez. Muitos dos potenciais interessados nas casas dos bancos são já proprietários de imóveis, ainda não totalmente pagos, imóveis que inevitavelmente terão de vender para poderem adquirir o que entretanto mais lhes parece interessar.

Se não houver condições de mercado para que esta venda se faça, a outra também não se concretizará. Não há facilidades na comercialização de imóveis, nem na comercialização das chamadas casas dos bancos, denominação pouco rigorosa, utilizada pela inércia da linguagem, mais para identificar uma oferta supostamente feita em condições que se julgam vantajosas do que para identificar quem pode e quer oferecê-la.

A banca tem de saber navegar no estuário largo desse rio de dações de imóveis que tem corrido em Portugal, pois precisa, com alguma urgência, de “livrar-se” desses ativos indesejáveis mas não a qualquer preço nem criando a ilusão de que o regresso desses imóveis ao mercado pode ocorrer facilmente pelo simples recurso da oferta de algumas facilidades no respetivo financiamento.

Quando o valor do crédito para a habitação é idêntico ao valor médio de um Produto Interno Bruto dos anos recentes, nas operações que podem alterar o montante do crédito mal parado todo o cuidado a ter será sempre pouco.

Luís Lima
Presidente da APEMIP e
Presidente da CIMLOP Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 2 de novembro de 2012 no SOL

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