Um documentário de um canal de televisão australiano, que teve bastante relevância mediática em 2011, refere a existência, na República Popular da China, de várias cidades recentemente construídas, quase desertas, apontando a existência, naquele enorme país, de 64 milhões de apartamentos novos devolutos, em contraste com situações de carência habitacional nos subúrbios de Pequim.

Os olhos dos espectadores passeiam-se, nesse documentário, por centros comerciais novos, desenhados à imagem e semelhança dos centros comerciais europeus e norte-americanos, espaços quase desérticos onde lojistas testemunham dificuldades que se adivinham quando um deles diz que, às vezes, passam quatro dias sem efetuar qualquer transação.

Num dos planos do documentário, vê-se um enorme espaço de onde saem duas amplas e modernas escadas rolantes de acesso ao piso superior, escadas que não estão a rolar e por onde sobem, como subiriam se as escadas não fossem rolantes, duas pessoas, as únicas visíveis nesse plano panorâmico. Uma verdadeira imagem de um espaço fantasma que apesar de terminado aguarda utilização mais intensa.

O jornalista australiano que elaborou este trabalho, disponível na Internet, entrevistou investidores estrangeiros com interesses na China que falam da clara existência de uma bolha imobiliária, maior do que a existente nos Estados Unidos da América, e também chineses, dos poucos residentes nestas cidades, bem como outros, na superpovoada e poluída cidade de Pequim.

O tema da bolha imobiliária nessa gigante economia emergente que é a República Popular da China – um dos que empresta a primeira letra para a sigla BRIC, sigla que designa, como se sabe, as economias emergentes e que é formada pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China – é também recorrente em jornais de referência como o Internacional Herald Tribune, a edição global do New York Times. Já neste ano de 2012, cruzei os olhos por um longo artigo sobre esta mesmíssima matéria num exemplar do Herald que li numa viagem de avião.

Nós por cá, nunca tivemos nada de semelhante, nem temos, há muito tempo, qualquer situação que possa aproximar-se de uma qualquer bolha imobiliária, em espiral de preços, por muito que isto desagrade a quem tenta e espera que haja uma desvalorização do património imobiliário português para poder entrar neste mercado adquirindo uma fatia significativa desse mesmo mercado a preços artificialmente desvalorizados.

Tampouco, alguma vez, alguma cadeia de televisão pode filmar, em Portugal, uma cidade fantasma como as que existirão na China. Muito menos agora que algumas periferias, onde a oferta não conseguia encontrar-se com a procura por força das dificuldades de acesso ao crédito, voltaram a mexer com as facilidades que os bancos estão a conceder nas transações de imóveis que herdaram no deve haver dos créditos malparados.

Esta situação, que desmente a existência, entre nós, de bolhas e de cidades fantasmas, não é também muito saudável para a nossa Economia, mas este é outro tema.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 06 de Fevereiro de 2012 no Jornal i

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