Usei, faz algum tempo, o exemplo do preço de uma obra de arte rara para, por analogia, dar relevo ao equilíbrio que sempre deve existir em matérias de fixação de preço para qualquer produto que não esteja tabelado, bem imobiliário incluído. O que então chamei de parábola de um Picasso caro pretende lembrar que por mais rara e única que seja uma obra de arte, o melhor preço para a venda dessa mesma obra é aquele que encontre alguém interessado disponível para o pagar.

Um bem imobiliário é também um bem único pois não há duas localizações iguais nem a própria construção é sempre a mesma, inclusivamente quando concretizada pelo mesmo construtor, o que faz com que os preços que a oferta pede possam variar em produtos aparentemente idênticos. Isto, claro, nunca esquecendo que a variante da procura é fundamental e até, em certas circunstâncias, o que marca o mercado.

O sector imobiliário foi, durante anos e anos, no início do chamado “boom” da construção marcada pela oferta. Tudo, ou quase tudo, o que era construído encontrava, como uma enorme rapidez, alguém interessado. A procura parecia temer que a oferta deixasse de fazer propostas e escoava tudo o que aparecia com medo de uma possível escassez a médio ou a longo prazo. Isto, claro, distorceu a ideia de mercado imobiliário.

Historicamente compreensível, este fenómeno fez com que as oscilações dos preços pudessem ser muitas e de elevada amplitude e, principalmente, fez com que muita da oferta, em todos os segmentos, se sobrevalorizasse, com preços que na verdade hoje, mais do que nunca, inviabilizam o desejável encontro com a procura. Quando se exagera a pedir, a transação imobiliária deixa de ter condições para se concretizar e na verdade existe apenas na vontade da oferta.

Sendo verdade que o nosso sector imobiliário oferece-se à procura, de investidores tradicionais e de outros interessados, com melhores garantias do que aquelas que as de outros mercados, também, infelizmente, é verdade que sucumbimos muitas vezes à tentação de inflacionar preços quando desconfiamos que há uma potencial procura – com a tendência para a Reabilitação Urbana e para o regresso ao centro das cidades há quem ofereça ruínas ao preço de casas solarengas.

Temos uma oferta imobiliária muito variada que contempla, por exemplo, casas solarengas de província, quintas em regiões demarcadas, imóveis centenários em centros históricos de grandes cidades, como Lisboa e como o Porto, já reabilitados ou preparados para a reabilitação, entre outras obras raras. Mas para que o mercado imobiliário português readquira uma estabilidade com futuro, importa que não se caia na tentação de inflacionar preços.

Não é por aumentarmos a tabela de preços deste ou daquele imóvel, mesmo considerando imóveis de qualidade, que tais ofertas vão encontrar com mais facilidade quem as queira ao abrigo de qualquer programa como, por exemplo, os programas de captação de investimento através do imobiliário.

Tal como sempre recusei e combati as desvalorizações artificiais para o nosso imobiliário também devo alertar para o irrealismo na euforia de certos preços apresentados pela oferta. Isto é defender o mercado. 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 30 de Abril de 2015 no Jornal i

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