O relatório do Barómetro Imobiliário da APEMIP para o mês de dezembro de 2017, espelha o ponto de situação da realidade imobiliária em Portugal.

Se, por um lado, realça as dinâmicas do mercado de compra e venda, acentuadas na celeridade com que se transacionam imóveis, por outro acentua as problemáticas do mercado habitacional que se apresentam com os desequilíbrios que existem entre a oferta e a procura no mercado de arrendamento urbano e com os preços elevados que se praticam nos centros das cidades.

Atualmente, cerca de 80% dos imóveis em Portugal transacionam-se em menos de seis meses. Um número fabuloso, sobretudo se tivermos em conta o que se passava há uns dois ou três anos, quando as imobiliárias tinham em carteira ativos durante quase dois anos. Do lado do arrendamento, a celeridade no escoamento de stock é também de notar: menos de três meses, é o tempo que um ativo está no mercado até ser ocupado. No entanto, quando olhamos para a perceção da oferta e da procura, a verdade é que as imobiliárias têm cada vez menos ativos disponíveis no segmento do arrendamento urbano, enquanto os clientes não têm parado de aumentar.

Este desajuste não é uma novidade e não deixa de ser um reflexo da ineficácia de resposta que o arrendamento dá as necessidades da procura. E não adianta culpar o turismo, o investimento estrangeiro ou o alojamento local pela escassez de oferta. O problema está na inexistência de um mercado que seja atrativo para que os proprietários nele queiram investir. E nesse aspeto, a cura para esta doença já está mais que identificada: incentivos. Há que dar incentivos, nomeadamente fiscais, para que os senhorios coloquem as suas casas a arrendar a preços acessíveis. Porque o arrendamento não deixa de ser um negócio, e como tal, que que ser atrativo para quem nele investe.

O desafio do mercado imobiliário para este ano prende-se com a inexistência de stock, tanto para comprar como para arrendar, e que tem feito com que os preços, em ambos os segmentos, estejam acima das necessidades da generalidade das famílias portuguesas.

Caminhamos perigosamente para o fenómeno do “nem-nem”. Nem as famílias têm condições para comprar, nem para arrendar.

Por um lado, no mercado de compra e venda, os preços começam a deixar de ser acessíveis nos centros das cidades. Também as condições de acesso ao crédito à habitação são mais restritivas do que eram no passado, e o Banco de Portugal tem vindo a recomendar cautelas acrescidas ao sector financeiro.

Por outro lado, no arrendamento, as leis de mercado ditam os preços que são praticados. Muita procura e pouca oferta faz com que os preços aumentem, e as famílias e jovens vêm-se de repente sem opção.

O panorama exige o regresso da construção nova ao imobiliário. Uma construção pensada, responsável, que tenha em conta os critérios da procura e que satisfaça as necessidades das famílias portuguesas e do mercado. Impõe-se também a necessidade urgente do Estado intervir no que ao mercado de arrendamento diz respeito, através da introdução de incentivos fiscais aos senhorios, da dinamização de programas que promovam a segurança para quem investe e da promoção de ações de estímulo ao mercado, levadas a cabo em conjunto com as autarquias, que possam sanar os desequilíbrios existentes.

 

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luislima@apemip.pt

Publicado no dia 07 de fevereiro no Jornal Público

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