A reabilitação do património construído não é só um projecto de betão. E não o é, desde logo, pela inversão da tendência de desertificação dos centros históricos e pela reanimação de muitas cidades, dois vectores fundamentais para ressuscitar cidadanias perdidas que podem e devem gerar.
A reabilitação e regeneração dos grandes centros urbanos é mais uma face, e, uma das mais importantes do prisma global da recuperação económica em que todos estamos, ou deveríamos estar empenhados, e não apenas pelos postos de trabalho que gera e pelo volume de negócios que movimenta. Números não desprezíveis se lembrarmos que só em postos de trabalho imediatos podemos falar em cem mil.
Quando falamos de cidades, falamos, essencialmente, do “sentimento de cidade humana”, para usar uma linguagem poética de uma artista brasileira, e nesta realidade cruzam situações como as que adivinham quando estamos, ao mesmo tempo, integrados e excluídos, na imensidão das solidões povoadas, que também ajudam a agravar a nossa Economia.
Não acudir à mais do que visível e crónica degradação dos centros das cidades, especialmente em momentos colectivamente mais fragilizados, pode contribuir para potenciar ambientes propícios a revoltas e a explosões sociais duradouras como são sempre os ambientes dos habitats urbanos sem qualidade de vida.
Daí que, as recentes medidas governamentais de dinamização do mercado de arrendamento urbano, também centradas do mercado da reabilitação dos centros urbanos, devam ser vistas como decisões a assumir por quem quer que venha a receber o testemunho da acção governativa. Sem qualquer preconceito sectário que, no caso, apenas redundará em prejuízo para o país e para a recuperação económica que se deseja.
Há palavras que, em certos contextos ganham uma dimensão pejorativa. Betão é uma dessas palavras. Associamo-la à ideia de cidade desumanizada quando, por exemplo, falamos em selvas de betão. Mas nem todo o concreto, para usar uma palavra mais comum no Português do Brasil, deve ser visto assim.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 15 de Abril de 2011 no Diário de Notícias