A tentação de pensarmos, como o senhor Alan Greenspan, antigo presidente do Banco Central dos Estados Unidos da América, numa Europa divida entre países formigas e países cigarras, com os primeiros a trabalhar para os segundos, como na fábula da cigarra e da formiga, é tão grande quanto perigosa.

Greenspan diz que os países do Norte da Europa é que são exemplares, por oposição aos países do Sul da Europa, esbanjadores, e muitos de nós somos tentados a pensar que ele talvez possa ter razão. Mas basta comparar o valor do salário mínimo desses países, com as indexações necessárias ao custo de vida, para vermos que é o Sul quem aperta o cinto.

È este Sul a que nós portugueses pertencemos, com toda a nossa alma mediterrânica, que se vê grego, quase sem qualquer excepção. Não podemos comparar os salários médios ou mínimos que se praticam em vários países de forma absoluta, sem um estudo que avalie e compare o poder de compra nesses mesmos países. 

Que importa que em determinado pais o salário mínimo ou médio possa ser três vezes inferior ao de outro país se neste último país os preços forem quatro vezes superiores aos praticados no primeiro? O que sempre esteve em causa é saber o que compra o salário hora. O que começa a estar em causa é, saber se se consegue um trabalho na economia formal.

E é neste ponto que nós, por cá, a Sul, nos vemos todos gregos, ou para usar uma linguagem económica, como a que se usa no índice Big Mac, precisamos de mais tempo para comprar um Big Mac, isto é, vendemos mais tempo do nosso trabalho para obtermos o dinheiro necessário à aquisição desse hambúrguer da gastronomia global.

Teremos nós, portugueses, como seguramente os gregos e os irlandeses, comido mais Big Macs do que devíamos, de acordo com a nossa produtividade e com o nosso empenho no nosso próprio crescimento e desenvolvimento? 

Se nos tivéssemos contentado com umas sardinhas assadas, uns pimentos e umas batatas cozidas regadas com bom azeite, prato típico comum à gastronomia grega e portuguesa, talvez a Troika fosse mais compreensível, em Atenas e em Lisboa ,que também tem um destino mediterrânico pela frente.

Na verdade, estamos, nesta bacia do Mediterrâneo a que pertencemos de alma e coração, todos muito gregos. Mas a culpa, que sempre morre solteira, não é só nossa. Não é só das cigarras, é também das formiguinhas.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 12 de Outubro de 2011 no Público

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