Podemos ter esperança nos resultados de uma delicada operação de neurocirurgia se desconfiarmos que o cirurgião vai usar luvas de boxe durante toda a intervenção? Incluindo no momento em que anuncia que vai cortar aquilo que diz ter de cortar para salvar o paciente que caiu nessa sala de operações tão delicadas?

Embora toda e qualquer intervenção cirúrgica deva merecer, por parte de quem determina e tem capacidade para a concretizar, os cuidados que todos os pacientes merecem, a verdade é que as neurocirurgias, tanto quanto posso imaginar, talvez exijam maior precisão atendendo à natureza dos sistemas que afectam.

Se extrair um estilhaço que se alojou numa perna pode ser concretizado, em caso de absoluta necessidade, sem anestesia ou com anestesias improvisadas como vimos em certos filmes do velho faroeste onde o produto que anestesia é uísque martelado, limpar um tumor que esteja alojado perto do cérebro deve ser algo muito mais difícil e delicado.

Bem comparando, direi que algumas operações em curso entre nós susceptíveis de poder afetar um dos nossos sistemas centrais parecem estar a ser efectuadas sem as anestesias adequadas e com instrumentos de incisão e corte demasiado poderosos para serem manipulados com luvas de boxe. 

O paciente, em que todos nós nos revemos, está na sala de operações há longo tempo a ser alvo de importantes e delicadas intervenções, sob suspeita de uma grave deformação numa parte vital do corpo mas, mesmo assim, a ser tratado sem anestesia e a sentir que as intervenções necessárias nunca são feitas de uma só vez e de forma eficaz como alguns neurocirurgiões prometem.

Quando julgamos que a dolorosa operação está concluída e terá corrido bem, atendendo à delicadeza do caso, logo nos anunciam outra, do mesmo grau de importância. Até parece que estamos condenados a viver permanentemente em plena sala de operações, entre a vida e a morte.

Não há esperança, por mais nuances de verde que vista, que resista muito tempo a uma constante e dura prova de fogo como a que temos testemunhado. Este caso confunde-se com o guião daquele longo folhetim que está a passar em horário nobre e que envolve um dos nossos grupos econômicos de referência, inclusivamente no Mundo da finança, todo ele agora bem no centro de uma enorme tempestade.

Um caso, recorde-se, cujas más notícias parecem não ter fim, tal o ritmo e o calendário a que estão a ser reveladas, e que pode ameaçar contagiar a esperança que temos vindo a recuperar no sentido da nossa própria recuperação económica. É isto que quero dizer, mas numa linguagem que renuncie ao estilo, mesmo que incisivo, das escritas saídas de mãos escondidas em luvas de boxe.

O que está a acontecer não é seguramente bom para Portugal, nem para os negócios que se queiram fazer em Portugal, nem para nada.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 17 de setembro de 2014 no Público

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