A acumulação de bens imóveis como ativos indesejados em resultado das dações que desaguam na banca exige, da parte da própria banca, soluções tão precisas e rigorosas quanto as de um neurocirurgião durante a remoção de um tumor localizado em zona crítica do corpo.

Esta não é uma operação que se faça de ânimo leve e mesmo quando, aparentemente parece estar a ser conseguida, é preciso aguardar algum tempo para comprovar se existem, ou não, efeitos colaterais tão graves ou mais graves ainda do que os resultantes da doença original.

Financiar a cem por cento a compra dos imóveis acumulados na banca, isentando os clientes interessados de várias despesas e oferecendo ‘spreads’ competitivos, é uma saída que mesmo sem estar associada a uma hipotética desvalorização dos preços pode não resultar em pleno.

Não resultará, por exemplo, se os potenciais interessados já tiverem casa própria e precisarem de a vender para adquirir o novo imóvel em perspectiva. Se não houver mercado e se não houver financiamento para esta venda aquele negócio estará altamente comprometido.

Tudo isto dando como garantido que a tentação de se optar por quebras de preços generalizadas que sempre desestabilizam o mercado e que sempre acabam por gerar novos ciclos de dações esteja definitivamente arredada como solução pontual, que nunca o foi, para este problema.

Está mais do que provado que esta abordagem, inicialmente ensaiada por algumas instituições financeiras, ameaçou transformar-se num verdadeiro segundo subprime que gerava novos e mais significativos stocks indesejados logo na hora dos primeiros escoamentos.

Esta falsa solução da revenda ao desbarato, cedo se revelou um desastre  de proporções incalculáveis pela desregulação do mercado que desencadeava numa sucessão, a montante e a jusante, de crises com metástases irreversíveis e potencialmente  fatais para toda a Economia.

Apostar no favorecimento do financiamento dos imóveis próprios, por oposição ao desfavorecimento dos demais, é caminho a arrepiar na comprovada certeza de que tal solução apenas gera mais dações de imóveis e mais desvalorização do património construído.

Não esquecemos que o valor do crédito para a habitação anda próximo do valor de um ano do Produto Interno Bruto, na média dos anos recentes,  e que qualquer erro nas operações que envolvam estes ativos pode multiplicar  o já elevado montante do crédito mal parado, virando-se o feitiço contra a feiticeiro.

As operações de escoamento de bens imóveis acumulados na banca, em resultado de um (in)evitavel agravamento do movimento das dações, devem ser efectuadas com a precisão e todos os demais cuidados que se exigem ao neurocirurgião que ensaia remover um tumor  nascido na pior localização do nosso corpo.

Luís Lima Presidente da APEMIP e 

Presidente da CIMLOP Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 29 de outubro de 2012 no Diário Económico

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