Na semana passada, Portugal recebeu a Espanha, no Estádio da Luz, para um amigável integrado nas acções promocionais da candidatura ibérica à organização do Campeonato Mundial de Futebol de 2018. Escrevo esta crónica antes do jogo, no próprio dia do jogo mas antes do jogo, com a certeza de que ninguém joga a feijões com a Espanha.

Veja-se, por exemplo, o que está a acontecer nas Economias. A Espanha que vive ainda os efeitos de uma das maiores bolhas imobiliárias de sempre, parte da qual cresceu graças a financiamentos da banca alemã, é um dos países do Euro mais protegidos, à custa do sacrifício mediático da Irlanda e, aparentemente, em menor grau, de Portugal.

A pretexto de um suposto perigo de contágio para a Espanha, Portugal e principalmente a Irlanda estão a ser claramente pressionados a recorrerem a ajudas europeias e até ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no sentido da obtenção de melhores condições para diminuir o défice soberano, no caso português, ou para acudir à banca em risco, no caso irlandês.

A Alemanha, que possui bancos com interesses de difícil resolução em Espanha, é uma das vozes mais agoirentas sobre o futuro da Irlanda e de Portugal, engrossando o tom de um coro afinado pelas premonições das tragédias gregas, quase a fazer lembrar outros tempos de ambições nacionalistas, hoje, impensáveis.

O fortalecimento que resultou da reunificação alemã, na sequência da queda do Muro de Berlim, só foi possível pelo enorme esforço de coesão solidária entre as duas Alemanhas, opção equilibrada que deveria servir de exemplo para a própria União Europeia nesta hora de aperto para alguns Estados membros. Ângela Merkel, oriunda do Leste, deve saber isto como poucos.

Por tudo isto, nesta hora de reencontros ibéricos, que nunca são a feijões mesmo quando disputados a 22, em torno de um bola redonda e sem grande preocupação quanto ao resultado final em golos, apetece lembrar um dos mais mediáticos momentos diplomáticos dos tempos modernos, pronunciado em castelhano de Madrid e de Caracas.

Refiro-me a um “por qué no te callas” lançado pelo rei Juan Carlos de Espanha ao presidente venezuelano Hugo Chávez, durante uma conferência ibero-americana realizada em 2007, no Chile. Apetece dizer o mesmo, noutras línguas, a alguns estrangeiros e até a alguns portugueses que se mostram mais amigos da onça do que de Portugal, para evocar outra história.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 26 de Novembro de 2010 no Sol

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