Na Holanda, país tão empreendedor que até terra roubou ao mar, país do Norte da Europa tão rigoroso nas exigências de austeridade, com tolerância zero, para com os países madraços da Europa do Sul, alegadamente povoados de molengões, na Holanda também há uma bolha imobiliária e uma bolha que já começou a rebentar.
Digo também, mas digo mal pois entre nós não houve bolha, embora muitos holandeses e outros europeus do Norte tivessem acreditado no contrário, levados por análises pouco rigorosas. Na Holanda sim, há uma bolha imobiliária, como a que deflagrou nos Estados Unidos e em Espanha. Na Holanda, a banca também apostou, sem grande cuidado, em empréstimos para o imobiliário privado, mais num quadro de alguma especulação imobiliária do que para solucionar problemas reais de habitação.
Hoje o endividamento da Holanda é dos maiores da Europa, os bancos são credores de brutais empréstimos imobiliários, o desemprego está a crescer, a procura interna a baixar, a recessão à porta e, apesar de algumas mediadas preventivas, a Holanda prepara-se para também violar o critério do déficit da União Europeia, que proíbe empréstimos acima de 3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Lá como cá e como em muitos outros países vítimas da crise do euro, o ciclo vicioso é claro como recentemente o explicou Jörg Rocholl, presidente da Escola Europeia de Administração e Tecnologia. Os consumidores, excessivamente endividados, não conseguem pagar os empréstimos contraídos, o que trava a capacidade da banca no financiamento da Economia, gerando retração económica, desemprego e ainda mais incumprimento no pagamento dos empréstimos.
Aforradores por natureza, os holandeses estão também a retrair-se, neste cenário, muito mais, quer no consumo quer, por maioria de razões, em potenciais investimentos. Tudo isto conjuga-se negativamente na Economia. Para alguns economistas, a bolha imobiliária já estourou na Holanda que já vive em recessão, num desemprego crescente e com uma dívida de 250% do rendimento disponível.
Nós portugueses ao lado dos irlandeses, e dos gregos e dos cipriotas e dos espanhóis, estamos menos isolados e conscientes de que não somos mais vítimas do que responsáveis pela crise do euro. Os holandeses, grandes entusiastas do euro, com uma Economia exemplar, com grandes exportações, entrou para este barco. Talvez agora os grandes países da Europa olhem com olhos de ver para esta crise global.
Os bancos holandeses – um dos quais já teve de ser resgatado – possuem 650 mil milhões de euros no sector imobiliário, sector que ao entrar em desvalorização, real ou artificial, pode arrastar o próprio sistema financeiro se, como é o caso, este estiver muito empenhado naquele.
Grande aliada da Alemanha na exportação das receitas de austeridade pelo Europa do Sul, a Holanda, sempre tão certinha, experimenta agora a dor da crise. Antecipando-se a uma França que todos pensavam ser o país mais vulnerável dos pesos pesados da Europa. Tudo pode mudar com a submersão holandesa, quase literal. Esperemos que para melhor.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 24 de maio de 2013 no Jornal Sol