Há dias, alguém claramente interessado num bem imobiliário colocado no mercado do arrendamento urbano pelo proprietário a um preço muito em conta, contrapunha um terço do valor pedido argumentando que nos tempos que correm um terço do valor já será muito bem.

Nos tempos que correrm o que é preciso é bom senso como aquele que o Presidente do Banco Espírito Santo (BES), Dr. Ricardo Salgado, publicamente demonstrou ao admitir outras soluções que não a penhora pura e simples dos bens imobiliários quando haja incumprimento por parte de quem contraiu empréstimo para aquisição de casa própria.

O Dr. Ricardo Salgado disse que o BES já trocou empréstimos cujos devedores revelam incapacidade para satisfazer as respectivas obrigações por contratos de arrendamento, admitindo também a adopção de outras soluções como a aceitação de períodos de carência e outras condições mais favoráveis que possam desenhar-se em sede de juros.

Registo esta posição do Presidente do BES (com a devida vénia por ser esta também a minha opinião, alias tantas vezes expressa) ousando considerá-la reveladora de um bom senso que muita boa gente não tem revelado na visao limitada de quem pensa que poderá lucrar com os tempos que correm conseguindo valores absolutamente impensáveis num quadro de preços justos e equilibrados.

Quem contrapõe um terço de um valor cujas margens de lucro estão já muito condicionadas esquece, por exemplo, que essa desvalorização forçada do património imobiliário, eventualmente conveniente na hora da compra ou do arrendamento de ocasião, será muito indesejável noutros momentos. 

Ao dizer o que disse perante as câmaras de televisão, o Dr Ricardo Salgado confirmou a imagem de lucidez que foi criando junto de vastos sectores da opinião pública, lucidez que se afere com mais rigor em momentos difíceis como o que vivemos, momentos que facilitam soluções aparentemente mais fáceis.

Nos tempos que correm o que a Economia do país e precisa é de soluções serenas e bem pensadas e não da facilidade com que muitos sonham quando forçam a desvalorização de grande parte da riqueza que os portugueses foram construíndo, mormente no património imobiliário.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 12 de maio de 2012 no Jornal de Notícias

Translate »