É consensual que os factores subjectivos são tão determinantes como os factores objectivos, inclusivamente no mundo dos negócios. Na sequência da crise financeira de 2008, desencadeada na América da Lehman Brothers, a instituição financeira muito ligada ao crédito imobiliário cuja falência é um marco dessa mesma crise, em Portugal, onde  não houve bolha imobiliária, os preços das casas também chegaram a descer fruto do contágio, que também pode ser um factor subjectivo.

Gradualmente, fomos recuperando o valor do património imobiliário construído e fomos afirmando o nosso mercado imobiliário como sendo muito apetecível, especialmente com a Reabilitação Urbana em curso, e com as potencialidades que esta ganha no quadro do mercado de arrendamento urbano e nas pontes que faz para o turismo residencial.

O nosso imobiliário passou a servir de refúgio a poupanças e a investimentos, nacionais e estrangeiros, alternativos a outros investimentos que a crise revelou serem menos seguros, especialmente os investimentos em produtos financeiros tóxicos que estiveram na base da instabilidade financeira mundial desencadeada em 2008, e o sector reassumiu-se como um dos pilares da própria recuperação económica.

Para esta realidade contribuíram, como é sabido, os programas de Autorização de Residência para Investimento, as ARI também chamadas de vistos Gold, e as condições favoráveis oferecidas no campo fiscal a cidadãos europeus não residentes, um programa que também captou novos residentes com todo o dinamismo que isso implica para o sector.

Por razões conhecidas, que não as do impasse que ameaça instalar-se na formação de um Governo, os pedidos de vistos Gold foram-se acumulando registando-se uma fila de espera com potenciais investimentos num total de 3,5 mil milhões de euros, um valor que poderia traduzir-se na criação de 40 mil postos de trabalho e que na sua esmagadora maioria são destinados ao imobiliário.

Entretanto, e antes que a situação destas burocracias paralisantes fossem eficazmente desbloqueadas, o clima de crispação que se instalou neste tempo de procura de maiorias que garantam estabilidade a um Governo para a República, é fértil no aparecimento de boatos alarmistas de tal forma que ainda recentemente recebi telefonemas do Brasil a perguntar especificamente, se os vistos Gold iriam acabar em Portugal.

Em boa verdade, nenhuma das hipóteses governativas que se perfilaram no sequência das eleições de 4 de Outubro – uma centrada no PSD outra centrada no PS, alguma vez apontou ou ameaçou extinguir esses programas de captação de investimento estrangeiro, o que me leva a concluir as dividas nesse sentido são fruto de uma desinformação que cria factores subjectivos negativos sobre o nosso futuro próximo.

Esta é aliás uma das razões pelas quais importa fazer um esforço acrescido na descrispação do nosso ambiente político, no sentido da serenidade das posições que todos os protagonistas assumem, interna e externamente. É que as nossas condições objectivas positivas podem anular-se pela força dos factores subjectivos, especialmente quando ancorados em certezas inexistentes. E na verdade, nosso futuro pode ser melhor do que alguns o pintam. Todos o queremos, julgo eu.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 16 de Novembro de 2015 no Jornal i

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