É pena que o realismo político que tem caracterizado o atual Governo no plano da diplomacia económica, prosseguindo, com êxito, o trabalho realizado pelo anterior governo, por exemplo no que respeita às relações com a Venezuela, onde vivem milhares de portugueses emigrados, não faça regra, por exemplo, no que ao sector imobiliário diz respeito.
Externamente somos mais realistas do que internamente. Decisões que, aparentemente, deviam estar para lá das lógicas partidárias, por serem consensuais, como é o caso das soluções a adotar para dar um impulso significativo à Reabilitação Urbana, ao Arrendamento Urbano e ao Turismo Residencial, mereciam uma continuidade que não aconteceu.
Os nossos brandos costumes, alguma resignação quase crónica ou uma clara tendência para a memória curta não garantem que o rastilho da indignação social continue, entre nós, apesar de alguns excessos aqui ou além ensaiados, com uma razoável margem de segurança, ao contrário do que vemos na Turquia ou mais recentemente no Brasil.
As ações políticas de rua, com espaço mediático mundial, como está a acontecer na Turquia e no Brasil, serão diferentes, na sua génese, mas mostram ao resto do Mundo, mais democrático menos democrático, que é possível, por esta via, influenciar o Poder ao ponto de anular decisões assumidas, como aconteceu em algumas cidades brasileiros no tocante ao preço dos transportes.
Em Portugal, o rastilho social, seja o das redes sociais seja o das populações que estão a enfrentar graves problemas sociais, de que o desemprego galopante, com todas as suas consequências, será o mais gravoso de todos, em Portugal o rastilho social das revoltas descontroladas é, aparentemente, longo mas tem vindo a diminuir de dia para dia, na razão direta da nossa recessão.
Entre a resignada acalmia dos portos de abrigo, mesmo improvisados, e a agitação do mar alto, com forte ondulação, quem não tenha nada a perder – e cresce o número dos que não têm nada a perder – despreza todos os avisos à navegação que o tentam manter ancorado no desespero e, um dia, arrisca tudo, mesmo que as barras marítimas estejam encerradas . Eis um bom aviso à navegação de quem nos governa.
Luís Lima
Presidente da APEMIP e da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 28 de Junho de 2013 no Diário de Notícias