A mãe de um dos colaboradores da APEMIP que me acompanham na visita ao Brasil, onde escrevo esta crónica, e, espero ainda estar no dia previsto para a sua publicação, essa senhora, de idade já respeitável, quando soube que uma das etapas desta viagem seria São Paulo, perguntou ao filho se era possível que alguém tivesse saudades de uma cidade onde nunca esteve.

Esta dúvida, disse-me o filho, tem uma explicação. A senhora mãe dele, queria, ainda em solteira, receber uma carta de chamada de uns tios que tinham emigrado para São Paulo, e, ali, faziam fortuna que se via. À época, para procurar a sorte no Brasil era preciso receber a chamada “Carta de chamada”, um documento chave da emigração portuguesa que até foi cantado por poetas como Luís Veiga Leitão, que tem uma poema denominado “carta de chamada” cujos versos finais continuam a ter actualidade: “(…) Deixa os teus horizontes pequenos // e vem meu irmão e meu amigo // vem ver ao menos // o mar que trago comigo”.

Hoje, no Brasil, à frente de uma delegação da APEMIP que está “neste imenso Portugal”, para utilizar um verso de um outro poeta de língua portuguesa, desta vez Chico Buarque da Holanda, a coordenar os esforços necessários à constituição de uma estrutura confederativa internacional, que reúna associações empresariais dos países lusófonos da fileira da construção e do imobiliário, numa acção de diplomacia económica sustentada e sem as pressas de quem parece querer apanhar um comboio que, subitamente parece estar na moda. Hoje, no Brasil, redescubro novas “cartas de chamada”,  e quase me atrevia a responder à mãe daquele colaborador da APEMIP, dizendo-lhe que é possível ter saudades de uma cidade que nunca se visitou.

Num Brasil, que no presente contexto da globalização da Economia é o espaço mais natural para o alargamento da nossa Pátria dos negócios, se entendermos que este conceito,  bebido em Fernando Pessoa, para quem a Pátria foi a língua portuguesa, pode ser aplicado ao mundo empresarial; num Brasil onde há quem ainda veja Portugal como musa de um fado/destino tropical, num Brasil, sublinho, que os especialistas internacionais dizem ter passado quase incólume pela chuva da presente crise, que projecta crescimentos superiores ao dobro da média mundial e que é, por exemplo, o maior exportador de biocombustíveis.

Quando chegarem os turistas para o Campeonato do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016 nós, seguramente, já cá estamos, com a força de quem respondeu a uma nova carta de chamada.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado 6 de Fevereiro de 2010 no Diário de Notícias

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