Não podemos ficar sem capacidade de inovação. Não podemos voltar a ser um país onde não há lugar para novidades ou, pior ainda, um país que despreza e desvaloriza as novidades que tem, algumas das quais secretamente cobiçadas por terceiros, que, para as obter de forma mais facilitada, também promovem a respectiva desvalorização.

Tudo isto é válido para muita realidade do nosso país concreto, aqui e agora, incluindo o país imobiliário que está a desbaratar, por razões subjetivas inexplicáveis, ou talvez não, uma parte significativa do mais recente e moderno património construído, sem cuidar de um futuro próximo menos generoso em condições para voltar a apostar em propostas novas.

Por razões que se prendem com uma das minhas atividades empresariais, dei recentemente uma volta ao Portugal imobiliário, de Norte a Sul, identificando um denominador comum em muita da oferta que sobressai no mercado imobiliário de compra e venda, nomeadamente no que respeita à recolocação de bens devolvidos a credores – a desvalorização excessiva de tais bens.

Aparentemente, tal desvalorização justificar-se-á pela evidente urgência de fazer negócios neste tempo de gritante falta de liquidez para muitas empresas, mas num cenário de ausência de qualquer bolha imobiliária baixar os preços quando a oferta vai, necessariamente, baixar nos próximos tempos para pouco adequado em termos académicos.

Por razões que são conhecidas e eram previsíveis, mesmo antes dos países da Zona Euro terem sofrido uma crise financeira, é esperada uma retração significativa da construção imobiliária, em especial da construção de produto novo, por um período relativamente alargado. Isto deveria valorizar o que existe neste segmento do novo e não o contrário, como acontece.

Este fenómeno não será apenas resultante de uma qualquer estratégia comercial que privilegie a rapidez na conclusão dos negócios pela via de uma oferta com preços considerados “competitivos”. Na verdade os preços em questão são mais do que competitivos e configuram até uma situação desastrosa de dumping, claramente injustificada.  

Iludidos pelo sucesso na recolocação de tais bens no mercado em tempo razoável, esta tentação de fazer baixar os preços pode gerar a implosão do próprio mercado e acabar, por longo tempo, com a oferta em novo. Isto sem ignorar o efeito de contágio que uma qualquer desvalorização gera mesmo nos bens imobiliários que não se oferecem para venda.

O equilíbrio entre a necessidade de manter o mercado a funcionar e a obrigatoriedade de garantir que os bens imobiliários devem continuar a ter um valor equilibrado mantem-se, não como uma velha máxima mas como uma ideia sempre nova do mundo das transações dos mercados saudáveis.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 26 de novembro de 2012 no Diário Económico

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