A reabilitação e regeneração dos centros urbanos históricos é um processo tão desejável quanto inevitável, se quisermos, efectivamente, reconstruir as nossas cidades num quadro de desenvolvimento sustentável, e, se quisermos que a fileira da Construção e do Imobiliário continue a ser um dos pilares das nossas economias.
O nosso tempo é muito diferente do tempo em que Napoleão mandou rasgar a regra e a esquadro, sem contemplações, a cidade de matriz medieval de Paris, transformando-a na cidade de boulevards como hoje a conhecemos, uma cidade que ainda ostenta as cicatrizes de tais cortes abruptos.
A História – já o disse noutros contextos – deve ser sempre um dos saberes mais acarinhados por quem trabalha nesta fileira da Construção e do Imobiliário, mais ainda na hora de analisar o desafio que o mercado imobiliário português atravessa, nomeadamente neste tempo de transição do ciclo da quantidade para o ciclo da qualidade, por onde passam a reabilitação e a regeneração urbanas.
Como ainda há pouco tempo disse em Coimbra, discursando num seminário sobre reabilitação que a Associação dos Profissionais e Empresas da Mediação Imobiliária de Portugal, a que presido, ali organizou, o duplo desafio de reabilitar e regenerar cidades com história e alma, num quadro de desenvolvimento sustentado, é também uma clara resposta às exigências de uma procura mais sofisticada e consciente, e uma das mais bem conseguidas soluções de oferta num mercado maduro, onde cerca de 80% das famílias portuguesas são donas da casa que habitam.
Na oportunidade deste encontro de reflexão em Coimbra, dirigindo-me ao Senhor Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, que nos honrou com a presença no seminário, pedi ajuda para fazer passar esta ideia justa da reabilitação e regeneração urbanas, como tarefa patriótica que carece de mais investimentos por parte do Estado.
Há dias, pude confirmar junto do Senhor Ministro da Economia, que este desafio da reconstrução e regeneração das cidades, indispensável para a retoma económica, parece estar a voltar em força à ordem de trabalhos nos nossos governantes, na assumpção de que este é um dos caminhos mais seguros para todas as reabilitações em que temos de estar empenhados.
Pela reabilitação passa também alguma dinamização do mercado de arrendamento, embora este não dependa exclusivamente do dossier reabilitação/regeneração, pois cruza-se com outras realidades da nossa sociedade, entre as quais, as da questão da morosidade da Justiça e da justiça relativa da fiscalidade sobre os rendimentos do imobiliário.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 24 de Setembro de 2010 no Sol