Um ano depois de o sistema financeiro ter estado prestes a ruir e de a Administração norte-americana ter sido obrigada a segurar vários bancos de investimento, através de dinheiros públicos, o insólito está a acontecer: muitos dos bancos apoiados estão a apresentar lucros recordes e preparam-se para distribuir prémios igualmente recordes.

Optar pelo investimento público, mesmo à custa de uma potencial derrapagem do défice público, já não é uma questão ideológica ou de opção de política económica, como o prova o recente anúncio da chanceler alemã Angela Merkel que “descura” o controlo do défice financeiro do país a favor do crescimento económico e da redução de impostos.

Chefiando uma coligação que reúne os conservadores do partido alemão CDU-CSU e os liberais do FDP, a chanceler Merkel, aposta no choque fiscal para relançar o consumo, prometendo diminuir os impostos em 24 mil milhões de euros até 2011 mantendo, em simultâneo, os benefícios sociais para a população.

O governo alemão da chanceler Merkel, um dos líderes mais respeitados e ouvidos da Europa, acredita que este choque fiscal e esta aposta no investimento público terá como consequência a retoma do crescimento, a criação de emprego, e maior receita fiscal mas pela via de haver mais pessoas individuais e colectivas a pagar impostos.

O governo alemão, a fazer fé nas palavras do novo ministro das Finanças, Wolfang Schäuble, reconhece que o défice orçamental do país dificilmente se equilibrará nos próximos quatro anos, mas este é o preço a pagar se se quiser superar uma das mais graves crises económicas que a Alemanha vive nos últimos 50 anos.

Estas opções não são consensuais entre os especialistas. Há quem diga que nada garante que os alemães venham a consumir o dinheiro que possam poupar com estas medidas e há quem diga que a senhora Merkel não tem alternativa – é que diminuir as despesas públicas em tempos de desemprego  pode ter efeitos muito graves no crescimento económico.
A grande vantagem da senhora Merkel é que chefia um Governo de um país que já deu bons exemplos de ter capacidade para superar situações muito adversas.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 2 de Novembro de 2009 no Diário Económico

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