O arquitecto Nuno Teotónio Pereira está, e estará durante muitos anos, bem vivo entre nós. Partiu do nosso convívio há dias, mas a obra que nos deixou tem a marca da sua alma de artista sempre conjugada com as preocupações sociais que fazem dele um humanista com acções que ficam na história para o orgulho do nosso civismo, como foi a vigília da Capela do Rato, em finais de 1972.

Activista católico pela Democracia, desenhou também casas cuja utilidade estava, desde os primeiros traços, comprometida com o viver e habitar melhor. É este aspecto, comum aos maiores arquitectos, que quero aqui sublinhar, desde logo pelo facto de muitos outros, alguns muito bem qualificados, terem multiplicado outros merecidos elogios a Nuno Teotónio Pereira.

Se é verdade que as cidades são – como sempre digo – a fábrica e o produto deste sector imobiliário, não é menos verdade que entre os seus principais artistas estão sempre os arquitectos. E as cidades onde a a arquitectura se impõe são cidades onde apetece viver e onde o trabalho é mais produtivo e as relações entre as pessoas melhores e mais humanizadas

A opção, no imobiliário, por um verdadeiro desenvolvimento sustentável, que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras, na linha do que tem vindo a ser defendido após os sustos da crise do subprime, essa opção precisa da acção lúcida e comprometida com o social de arquitectos da craveira de Nuno Teotónio Pereira.

Como há uns anos reconheceu Paulo Mendes da Rocha, arquitecto brasileiro que ganhou o Nobel (Pritzker) da arquitectura em 2006, “Portugal – cito – possui, de modo reconhecido no Mundo inteiro, a mais extraordinária escola de Arquitectura que se pode imaginar”, acrescentado que este reconhecimento  tem a ver especialmente com a qualidade.

Há cinco anos, Barak Obama. discursando na entrega do prémio Pritzker a Eduardo Souto Moura, lembrou que arquitectura é – continua a citar – “ criar edifícios e espaços que nos inspiram, que nos ajudam no nosso trabalho, que nos unem e que se transformam, no seu melhor, em obras de arte nas quais nos podemos movimentar e viver”, acrescentando que nesta finalidade encontramos a razão pela qual a arquitectura pode ser considerada a mais democrática das formas de arte.

Na ocasião, o presidente dos Estados Unidos lembrou uma das emblemáticas obras de Eduardo Souto Moura – o estádio do Braga – sublinhando que ele foi construído ao lado de uma montanha e que a obra reaproveitou para fazer o cimento necessário o milhão e meio de metros cúbicos de granito da montanha que teve de ser devastado.

Outro arquitecto, Frank Gehry, disse que “a arquitectura deve falar do seu tempo e lugar, mas aspirar ao intemporal”. Esta qualidade de arte intemporal, que também pode e deve ser uma das marcas do imobiliário, é fundamental – devemos reconhecê-lo – para a acção do Homem na transformação do Mundo num lugar melhor.

Na sentida despedida de Nuno Teotónio Pereira, o elogio da Arquitectura como uma das mais importantes mais valias do imobiliário, como a Arte do Imobiliário – impõe-se e deve ser justamente assinalado.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 27 de Janeiro de 2016 no Público

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