Respondendo a um convite da Direção da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção, pude assistir em Lisboa, na passada sexta-feira, à abertura do XV Congresso desta associação e testemunhar o peso e a importância que as reflexões escritas sempre adquirem, pelo maior rigor que potencialmente podem apresentar, desde logo por serem, por natureza, mais pensadas.
A força do audiovisual é reconhecidamente enorme, mas a reflexão bibliográfica, a do discurso escrito, mantém a importância da palavra impressa, mais responsabilizante do que a palavra dita, sendo aliás esta a principal razão pela qual, nesta era do multimédia, muitas intervenções verbais são, crescentemente, amparadas por palavras escritas nesse difundidíssimo suporte que é o “power point”.
O mais recente exemplo do que estou a dizer, aconteceu na sessão de abertura do referido congresso com a notável e didática intervenção do Dr. Paulo Sousa, Diretor da Caixa Geral de Depósitos, que serenamente e apoiando-se numa reflexão previamente escrita, guiou os presentes numa visita aos problemas que se colocam ao imobiliário português e, por inerência, à banca e á Economia.
Sem menosprezo para os demais oradores da sessão de abertura deste congresso, a saber, o Eng. Afonso Caldeira, presidente da associação, o Prof Dr. Manuel Avelino de Jesus, docente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), com uma autêntica lição de economia, centrada no valor da habitação ou o Arq Rui Franco, assessor da Câmara Municipal de Lisboa, cujo olhar sobre as políticas municipais de habitação recebeu o inesperado apoio da presença da Arqª Helena Roseta, sem menosprezo por todos os oradores, ressalto a intervenção global do Dr. Paulo Sousa, que, devo declarar, muito considero.
Este meu destaque é justificável pelo facto do Dr Paulo Sousa ter sabido, com uma clareza acessível a poucos, enquadrar, à luz da nossa história mais recente, a realidade do nosso imobiliário, identificar as distorções que ocorreram neste processo, nomeadamente no tempo do boom da construção para habitação, e reconhecer os cuidados que agora devemos ter para não cairmos na tentação de soluções fáceis para os problemas gerados.
Num quadro de agudização do ratio de habitantes por fogo, mesmo descontando a segunda habitação, como referiu o Dr Paulo Sousa, e num cenário onde se vendem menos casas, desde logo porque a oferta foi superior ao crescimento da população residente, o facto do imobiliário ter cativado a maior fatia do crédito disponível e de estarmos, por diversas razões, a viver um momento difícil com um crescendo de dações de bens imóveis para pagamento de dívidas, não pode justificar uma desvalorização artificial do património imobiliário.
O imobiliário – disse frontalmente o Dr Paulo Sousa – continua, apesar de tudo isto, a ser um sector de refúgio para o investimento. O paradigma do investimento neste sector é que terá, seguramente, de mudar bastante, mas não pela via da desvalorização do património e num país onde mais de 75% das famílias compraram a casa que habitam. Ninguém, muito menos o país, beneficiará de soluções que não contemplem estas cautelas.
Palavras realmente sábias estas cujo eco, justo, só consegue ter a força merecida pela força da palavra escrita e pensada.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luiis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 30 de maio de 2012 no Público